Não é só em momentos extremos, como na busca de vacinas e de tratamentos para doenças que têm o poder de mudar os rumos da humanidade, que a ciência se mostra. O conhecimento científico está em tudo, desde as primeiras ações do dia, ao abrir os olhos e checar o horário e as notificações no smartphone, até o momento de apagar as luzes para dormir. Mas afinal, o que é ciência?
“Uma linguagem para facilitar nossa leitura de mundo”. A resposta vem da definição do professor e autor Attico Chassot e é lembrada pela também professora Alcione Torres. Vinculada ao Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT) da Uesb, ela é a responsável pelo Laboratório de Divulgação Química do Sudoeste da Bahia (Ladiq), que, há dez anos, tem tornado essa linguagem mais acessível.
“Temos uma população que só reconhece ciência como uma disciplina da Educação Básica na qual se explicam coisas difíceis e cheias de fórmulas e cálculos; ou como algo que só pessoas com mentes superdotadas e fora na nossa realidade realizam para resolver questões também fora da nossa realidade”, contextualiza Torres. A vivência, no entanto, mostra que não é bem assim. Atuando na educação e na popularização da Química, o Ladiq tem aproximado a comunidade da ciência com aulas experimentais, oficinas, participação em eventos e divulgação científica, seja na internet ou em escolas e praças públicas.
A ciência para descrever o mundo – A inquietação por compreender os objetos e os fenômenos faz parte da natureza humana. “Mas tudo isso era feito mais com base nas crenças religiosas do que na observação racional. O pensamento científico emerge na Grécia Antiga, principalmente a partir da Filosofia, como forma de reflexão sobre o homem e o mundo”, situa a coordenadora do Ladiq.
Na atualidade, enquanto as atenções se voltam para o trabalho dos cientistas, a humanidade acompanha de perto as etapas de uma produção científica, no caso da vacina contra a Covid-19, e o rigor necessário para o processo. Para o desenvolvimento de novos saberes, a ciência não pode se basear em explicações vazias, como destaca a professora. “Para se interpretar algo que está posto, é preciso que o conhecimento produzido seja capaz de explicar um objeto ou um fenômeno em qualquer situação, não somente à luz desta ou daquela visão de mundo, deste ou daquele indivíduo”, explica.
Assim, de acordo com ela, é o rigor do método científico que dá eficácia a uma investigação e credibilidade aos seus resultados. Sem a aproximação da população com essas percepções, as informações falsas, ou mesmo a desinformação, têm se disseminado. “Assim como um indivíduo não alfabetizado na língua portuguesa não conseguirá ler textos em português e terá que confiar no que as pessoas lhe dizem, o indivíduo sem o mínimo de compreensão sobre o que faz a ciência e sobre o conhecimento desenvolvido por ela fica à mercê do que lhe é dito, mesmo que sem nenhum fundamento ou com fundamento suspeito”, simplifica a professora.
Fazer e compartilhar ciência – A formação como cientista tem início na graduação, a partir da decisão de se debruçar sobre uma área e dar continuidade à pesquisa em uma carreira acadêmica, composta por mestrado e doutorado. Essa área não se restringe, porém, ao campo das Ciências Naturais. “Se no método científico das Ciências Naturais o que importa é a objetividade e a neutralidade em busca de uma generalização, no método das ciências humanas o que importa é a interpretação da investigação. Os fatos por si só não se explicam, mas a forma e o contexto que esses fatos se constituem é que faz emergir o conhecimento”, completa a professora.
Para ela, o passo mais importante para a formação do cientista é dado ainda na infância, “quando o indivíduo é encorajado a cultivar sua curiosidade, a nutrir o espírito investigativo que já nasce com toda criança”, descreve a professora, que reforça: “a escola tem um papel crucial nessa empreitada”.