“O fascismo é um ataque àquilo que foi considerado mais progressista na história da humanidade: a democracia, os direitos sociais, o respeito à alteridade, o direito das minorias se manifestarem, a responsabilidade social”. A partir dessa definição, o professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Milton Pinheiro, discorreu sobre o conceito e histórico do movimento que foi tema da mesa “O ovo da serpente: o fascismo no Brasil”, no campus de Vitória da Conquista, nessa quinta, 25.
“Portanto, o fascismo se consolida como um crime contra a humanidade. Em várias partes do mundo, é uma atitude ilegal, do ponto de vista das constituições, mas, em momentos de crise, nem sempre as leis são respeitadas”, complementou o professor, que é cientista social. De acordo com ele, a irracionalidade histórica e concepções políticas xenófobas e conservadoras fundamentam a estrutura fascista – cuja referência histórica se deu na Itália, com Benito Mussolini, e na Alemanha, com Adolf Hitler.
“Uma ideologia de direita, reacionária, que conta como base social com baixos estratos da classe média, em qualquer país, historicamente e sociologicamente conhecido como pequena burguesia”, destrincha o docente. Essa ideologia “surge, em um momento de crise política, social e econômica do mundo capitalista, como alternativa de resolver, de forma simples, essas crises, extinguindo a democracia e quem pensa diferente, atacando as minorias e, de certo modo, propondo um mundo onde tudo seja resolvido. Todavia, a gente não encontra nenhuma proposta viável nessas perspectivas”, explicou.
Promovida pelo Laboratório de Estudos em História Cultural (Lehc) e pelo Laboratório de Estudos Agrários e Urbanos (Leau), a mesa foi pensada a partir do filme “O ovo da serpente”, de Ingmar Bergman. A obra narra a Berlim de 1923, cenário no qual o nazismo alemão estava sendo gestado. Além do professor da Uneb, fizeram parte da discussão a professora do Departamento de História (DH) e integrante do Lehc, Cleide Lima, e o professor do Departamento de Geografia (DG) e representante do Leau, Sócrates Menezes.
Representando o Leau, o professor Sócrates Menezes sublinhou estudos que têm mostrado que a ação política resulta em conflitos variados e que, nessa conjuntura, é necessária uma análise teórica de movimentos como o fascismo. “A questão da violência é um dado presente tanto no campo, como na cidade. O que tem aparecido muito nessas pesquisas é que há um vínculo forte com um contexto crítico socioeconômico, e esses rebatimentos políticos como forma de administração dessa crise se dá de forma muito concreta no território”.
“A gente entende que é um tema que está na discussão, na atualidade, e a Universidade precisa dialogar com o que está acontecendo na política, na sociedade, na economia. A Universidade tem esse papel. Especialmente nós, das Ciências Humanas, que somos cientistas sociais e fazemos uma leitura histórica da realidade do Brasil e do mundo”, destacou a professora Cleide Lima, responsável por contextualizar o fascismo no país, sua chegada e a forma como se apresenta.