Para que possamos compreender nossa identidade enquanto sociedade e indivíduos, é fundamental revisitar a ancestralidade. Com esse propósito, foi realizado, na última sexta-feira, 19, no campus da Uesb, em Itapetinga, um momento de diálogo e reflexão entre povos indígenas, a comunidade acadêmica e estudantes do ensino médio.
Na atividade, estiveram presentes representantes do povo Pataxó Hãhãhãe, formado pelas etnias Tupinambá, Baenã, Kariri Sapuia, Guerém, Kamacã e Pataxó. Eles relembraram a história de luta e resistência no território do Médio Sudoeste contra o racismo e a violência.
A atividade homenageou a professora e pajé Maria de Fátima Muniz de Andrade, conhecida como Nêga Pataxó, assassinada em 2024, durante uma retomada na região de Potiraguá. Liderança comunitária e espiritual, Nêga era reconhecida pelo cuidado com a aldeia e pela luta em defesa dos povos originários.
Como parte da homenagem, foi entregue, simbolicamente, um mural com sua imagem, pintado pelo artista Von Robert, que ocupa 37 metros quadrados e consumiu mais de 10 litros de tinta.
“É um momento bem especial, fiquei muito emocionado. O processo foi difícil, porque não tínhamos recursos, mas conseguimos viabilizar de forma coletiva”, explicou o artista Von Robert. Ele contou que a obra foi inspirada em uma cena do sepultamento de Nêga. “Escolhi representá-la segurando um jarro de barro com as espadas de Ogum. Ela emerge das plantas com uma roupa vermelha em destaque. Foi minha forma de transmitir a força e a resistência de Nêga”, completou.
Para os povos indígenas, a presença do mural dentro da Universidade é um marco de memória e luta. Luzinete Muniz Pataxó, professora e irmã de Nêga, destacou que o ato vai além da homenagem. “Esse momento é muito importante não só para nós, povos indígenas, mas para que a sociedade também veja a nossa luta. O mural é um ato político, um ato de resistência”, afirmou Luzinete.
Luzinete, ainda, reforçou que a presença permanente dessa memória na Universidade tem grande importância para o povo indígena e para a história. “A permanência dessa memória na Universidade é de grande importância para o nosso povo e para nossa história”, acrescentou.
Ela também lembrou que a violência contra os povos originários continua. “O Brasil não foi descoberto, foi invadido, e os povos indígenas foram dizimados. Infelizmente, Nêga não foi a primeira e não será a última, porque a resistência e a luta continuam”, destacou.
Já para a professora Letícia Fernandes, vinculada ao Departamento de Ciências Exatas e Naturais (Dcen), a presença de Nêga, por meio da pintura, na Universidade representa a força feminina e o cuidado com a vida. “Trazer essa figura para dentro da Universidade é lembrar, o tempo todo, da dimensão do cuidado. Sem cuidado com as pessoas e com a terra, não teremos futuro. São as mulheres indígenas, quilombolas e camponesas que nos ensinam a sustentar a vida. A presença dela será uma inspiração permanente”, ressaltou Letícia.
A atividade foi promovida pelo Núcleo de Permacultura Sete Cascas e pelo Coletivo Docente Agroecológico da Associação dos Docentes da Uesb (Adusb).