Palestra dos alunos de Libras do curso de Odontologia para estudantes do Centro de Apoio Pedagógico de Jequié (Foto: Acervo do projeto)
Romper ou minimizar barreiras que dificultam a participação da pessoa surda na sociedade é o objetivo do projeto de extensão “Pontes, dirimindo barreiras e construindo acessos por meio da comunicação”. Desenvolvido pela Uesb, no campus de Jequié, a iniciativa foi criada em 2022, com uma consulta à comunidade surda do município, ouvindo e elencando as principais demandas. Após esse momento, a primeira área que ganhou foco nas ações foi a de Saúde, especialmente diante dos relatos de pessoas surdas sobre dificuldades e negligências no atendimento.
“O projeto Pontes vem para tentar minimizar as questões relacionadas à comunicação, ampliar as informações dos setores públicos a respeito da pessoa surda, da sua comunicação e buscar viabilizar atividades que possam favorecer a sua participação na sociedade enquanto protagonistas”, destaca a professora Émile Assis, coordenadora do projeto.
Atendimento do casal de surdos na Clínica Escola de Fisioterapia da Uesb
Uma dessas ações de sensibilização aconteceu na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade. Um casal de surdos, Maurício Barreto e Donara Brandão, e seu filho de seis meses tiveram acesso as informações do atendimento pediátrico na Língua Brasileira de Sinais (Libras). “É bom que a gente esteja num ambiente como esse para que as pessoas compreendam como se dá o contato com o surdo. Se a gente não tem contato, a gente não consegue ser percebido, mas, quando a gente tem contato, a gente consegue se identificar com o outro”, afirmou Maurício. A ação contou com a parceria da professora Itana Andrade e da estudante Calila Mendonça, ambas do curso de Medicina da Uesb.
Ao ser questionado sobre sua experiência na área da Saúde do município, Maurício detalha que a comunicação não é efetiva, o que dificulta o relacionamento com os profissionais e uma assistência eficiente. “A comunicação não flui, não existe. Não tem uma comunicação direta com o profissional de saúde. Então, algumas pessoas que já nos viram ou já tem uma convivência conseguem compreender melhor. Mas, mesmo assim, a comunicação não existe. É bem difícil a gente ter uma compreensão da nossa subjetividade”, conta.
Palestra para a equipe do Samu de Jequié (Foto: Acervo do projeto)
Avanços e novas perspectivas – Por conta de relatos como esse, a área de Saúde ganhou foco nas ações. Em 2022, o projeto realizou uma parceria com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), através da qual foi realizada uma ação de formação e orientação à equipe e outras atividades. A motivação surgiu das queixas da comunidade surda com a forma de entrar em contato com o Samu, que é feito por telefone, mas a pessoa surda não tem como utilizar tal serviço. Essa atividade em parceria com o Samu gerou resultado, como a inclusão de um intérprete de Libras na equipe do Serviço durante todos os dias de festa de São João de Jequié.
O retorno da comunidade surda tem sido positivo, o que vem gerando, também, uma ampla divulgação entre os próprios envolvidos. “Eles estão tendo a oportunidade de ter o acesso a muitas informações. Nosso feedback tem sido muito positivo da comunidade surda que tem nos apoiado. A gente tem tido uma representação consistente, um grupo considerável que acaba divulgando pra outros que falam, também, da importância do próprio projeto”, avalia a coordenadora.
Reunião do Projeto Pontes com membros da comunidade surda local (Foto: Acervo do projeto)
Neste ano, o projeto pretende trabalhar na área da Segurança, onde já iniciou contato com uma delegacia da cidade, para tratar, principalmente, do atendimento para registro de Boletim de Ocorrência e demais demandas.
Mauricio reitera que a surdez não deve ser uma barreira para a vida. “A única coisa simples é que a gente é surdo e que a gente se comunica com outra forma de comunicação. Eu não utilizo a oralização para me comunicar. A minha resposta não vai ser através da minha voz oral. A minha resposta vai ser a partir das minhas mãos. Os meus ouvidos são os meus olhos. Isso nos torna iguais, a nossa forma de comunicação que é diferente”, finaliza.