Aconteceu no último sábado, 16, no campus de Jequié, a abertura da 15ª Semana de Educação da Pertença Afro-brasileira, com o tema central Relações étnicas e raciais: diferenças e aproximações. Participam cerca de 500 inscritos, entre discentes, docentes, pesquisadores e pessoas da comunidade externa à Universidade. Aconteceu também, simultaneamente, o 2º Encontro de Religiões de Matrizes Africanas, o 2º Fórum de Educação e o 2º Sarau: linguagens Afro-brasileiras.
Os subtemas dos minicursos, palestras, exposições e rodas de conversas são inclusão, identidade de gêneros, dialeto yorubá, libras, sexualidade, terreiros de candomblé, culturas cigana, quilombola e indígena, discriminação, homofobia e racismo nas relações étnicas e sociais. Num país laico como o Brasil, vale lembrar que, ainda acontecem em vários setores da sociedade discriminações, intolerância religiosa e crimes de homofobia e racismo.
A professora aposentada e fundadora do Órgão de Educação e Relações Étnicas (Odeere), Marise de Santana, pontuou que a 15ª Semana de Educação é uma relíquia da Uesb e traz discussões de temas importantes e contemporâneos, como por exemplo, a homofobia e o racismo. “O racismo doutrinal nasceu com a antropologia, no século 19, quando a ciência trouxe elementos que separa os seres em inferiores e superiores. O racismo institucional, que não é desvinculado do doutrinal, é quando não há discussões de questões raciais e a falta de leis que puna aqueles que discriminam o outro por ter uma cor diferente”, explica a professora Marise.
Na abertura do 2º Encontro de Religiões e Matrizes Africanas os participantes pediram respeito às diversidades e fizeram uma Caminhada pela Paz, Contra a Discriminação Religiosa, saindo da Uesb até a praça Cavaleiros de Aruanda.
Convidada para fazer um breve relato de experiência do terreiro de Candomblé, Nzo Nkise Matamba, a filha de santo de Ogum, Soraia Farias Assis, explicou que é bom falar da essência enquanto pessoa, mas a religião do candomblé ainda é discriminada e cheia de preconceitos. Segundo a Assis, o preconceito é pela falta de conhecimento da religião, como, por exemplo, chamar alguém de macumbeiro (a). “Macumbeiro é quem toca o instrumento denominado macumba, esse é um grande equívoco. A intolerância é não aceitação da nossa religião”, lembrou Soraia.
O pai de santo Isaias Ribeiro, fundador do Nzo Nkise Matamba, falou que o evento oferece oportunidade e visibilidade para mostrar que o Candomblé é uma religião é limpa. “Temos princípios e doutrina. O candomblé é uma religião-mãe, acolhe todo mundo”, destacou o babalorixá.
Sobre questões curriculares, a 15ª Semana abre discussões acerca da Lei 10.639/03, alterada pela Lei 11.645/08, que trata da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena, obrigatório em todas as escolas, do ensino fundamental até o ensino médio.
O indígena Manoel da Silva Santana, coordenador de infraestrutura do Odeere, destaca o papel do órgão na contribuição da formação cultural das pessoas de Jequié e região. “Nestes 15 anos de Semanas de Educação da Pertença, o Odeere vem trazendo novas informações e formando os alunos dos cursos de pesquisa e extensão, da Pós-graduação em Antropologia das culturas indígenas e do mestrado em Relações Étnicas, que serão os multiplicadores das diversidades e pluralidades de culturas”, destaca o coordenador do Odeere.
Lusineide Silva Oliveira, aluna do curso de extensão do Odeere, Educação e Cultura Afro-brasiliera, minicursista do “A África em Mãos; língua yorubá e libras na sala de aula” com o professor e pesquisador da Uesc, Wermerson Meira Silva. “Na verdade, a 15 ª Semana vem trazendo todo esse processo de pertencimento e inclusão, e essa oficina, mais importante ainda, pois trata de um dos vários dialetos dos africanos numa junção com outra língua, a língua de sinais, tão pouco ensinada”, disse a cursista.
A programação encerra nesta quarta, 20, Dia da Consciência Negra. A mesa de encerramento, com professores convidados pela Uesb vai abordar o tema Relações étnicas e raciais: diferenças e aproximações.