Em tempos difíceis, a cultura chama ainda mais atenção, seja como fuga em uma realidade conturbada ou como maneira de se fazer ouvir em momentos de crise. Mas, o fomento à cultura da região Sudoeste e a valorização das profissões ligadas à arte são características presentes desde sempre na história da Uesb.
A Universidade foi a primeira a oferecer o curso de Artes Cênicas no interior da Bahia. O ano era 2010 e a Licenciatura em Artes com formação em Dança ou Teatro estava sendo implantado no campus de Jequié. Mais tarde, em 2012, o curso de Artes foi desmembrado em duas graduações: Licenciatura em Dança e Licenciatura em Teatro.
Já foi nesses cursos distintos que se formaram o ator Pyter Rodrigues e a dançarina Thiana Barbosa, em 2016. A Uesb significou para eles – e para dezenas de outras histórias – a possibilidade da profissionalização dos dons artísticos presentes desde a infância.
A construção de um artista – “O que costumo dizer é que não escolhemos a área artística, ela é que nos escolhe”, define Pyter Rodrigues. Ele conta que iniciou no teatro muito cedo, com seis anos de idade. “Desde então, não parei mais”. O morador de Arraial D’Ajuda, no sul da Bahia, trocou o curso de Matemática por Jequié, ao ficar sabendo do curso de Teatro na Uesb. “Deixar tudo para viver e estudar em outra cidade não é fácil, ainda mais quando não tem ninguém que lhe dê um suporte como familiares e amigos”, lembra o ator.
Os desafios, no entanto, não foram suficiente para desanimar Pyter, que explorou diversos caminhos durante a graduação. “Em todos os quatro anos na Universidade, fui bolsista do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) e isso me ajudou muito. Também fui integrante do grupo de Pesquisa Olaria, presidente do Centro Acadêmico Rizoma e fundador do Coletivo Nós, grupo formado com estudantes do Ensino Médio”, conta.
O fato de estar no interior da Bahia também não intimidou o ator, que foi além, participou de eventos nacionais e alcançou reconhecimento. “Cheguei a ganhar alguns prêmios, que hoje só agregam meu currículo”, comenta. “O importante é você se dedicar, ser ativo no curso e fora dele, se inscrever em festivais, feiras, eventos, congressos e não esperar as oportunidades baterem em sua porta, mas correr atrás delas”, reflete.
Atualmente lotado na Secretária Municipal de Educação de Jequié como professor de Artes, Pyter também dá aulas no curso técnico em Teatro pela Secretaria Estadual de Educação. Próximo de concluir a especialização em Pedagogias das Artes, pela Universidade Federal do Sul da Bahia, o ator aguarda a nomeação como professor efetivo do Estado de Minas Gerais. “Com certeza, tudo que conquistei e venho conquistando é devido minha formação na Uesb e pelo trabalho incansável de professores e professoras que se dedicam para dar o seu melhor por essa Instituição”, conclui Pyter.
Importância da profissionalização – Para Thiana Barbosa, um estereótipo antigo, porém ainda muito presente, é o maior desafio para os artistas: “ainda encontramos uma certa resistência da sociedade de compreender que nosso trabalho é um trabalho, nossa profissão é uma profissão que deve ser valorizada tanto quanto as outras”. Licenciada em Dança pela Uesb, Thiana destaca que isso acontece, principalmente, no ambiente escolar, por uma “visão deturpada da arte, que, por vezes, é entendida somente como entretenimento ou como ‘tapa buraco’ em eventos de datas comemorativas”.
Nesse cenário, a capacitação mostra o potencial da área em seus caminhos diversos. “Apesar de acreditar que não há, de fato, uma separação entre o ser professora e o ser artista, escutamos muito isso durante a graduação: nossa formação é de artista/docente/pesquisadora”, avalia Thiana. Segundo ela, a experiência na Uesb ampliou seus horizontes: “nessa Universidade, meu olhar para arte se tornou ‘gigante’”.
Durante o curso, a dançarina explorou todas as possibilidades. “Tive a felicidade de me envolver com o grupo de Pesquisa Olaria – que depois se tornou Olaria Grupo de Artes Integradas Performativas e de Pesquisa -, com o Pibid, com a Iniciação Científica e com o Programa de Extensão em Artes Cênicas (Procena)”, conta.
A experiência seguiu com a especialização de Estudos Contemporâneos em Dança da Universidade Federal da Bahia (Ufba), que possibilitou o contato com o Teatro e, até mesmo, com a sétima arte, o Cinema. “Sinto que, mesmo após a formatura, as produções que realizei na universidade reverberam sempre na minha vida fora dela. É como se eu não tivesse saído de alguma forma”, brinca a dançarina.
Plural como a arte, Thiana manteve, após a Uesb, trabalhos nas áreas de Dança, Teatro e Produção Cultural. Atualmente, é tutora presencial do curso de Licenciatura em Dança da Ufba, diretora e professora de Dança da Arco-Espaço Artes do Corpo e, também, professora do Núcleo de Dança de uma instituição privada de Jequié. “Todas as experiências que tive dentro e fora das salas de aula com colegas do curso, com professores, com projetos e produções contribuíram para o meu desenvolvimento e amadurecimento tanto nas minhas aulas quanto no palco”, ressalta.