De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2022 foi registrado, no Brasil, mais de 1,731 milhão de indígenas, de 305 diferentes etnias, falando mais de 274 línguas, sendo elas orais, escritas e de sinais. E apesar do reconhecimento da Língua Brasileira de Sinais (Libras) para surdos não-indígenas, o país ainda precisa avançar no registro das Línguas Indígenas de Sinais (LIS).
Sendo assim, o mestre em Relações Étnicas e Contemporaneidade pela Uesb, campus de Jequié, David Kaique Rodrigues dos Santos, Indígena Pataxó Hãhãhãe, realizou, na sua dissertação, uma pesquisa sobre a relevância da Língua Indígena Pataxó de Sinais na formação escolar dos alunos indígenas pataxós surdos.
David afirma que as LIS são fundamentais para a formação escolar dos indígenas surdos, porque representam sua identidade cultural. E que o ensino por meio das LIS é uma forma de garantir a inclusão e formação completa dos indígenas surdos, respeitando as suas tradições e línguas originárias.
O projeto da pesquisa foi feito na Escola Indígena Pataxó Coroa Vermelha e no Colégio Estadual Indígena alocado no mesmo espaço geográfico dentro da aldeia Pataxó Coroa Vermelha no município de Santa Cruz Cabrália na Bahia. Segundo David Kaique, durante o processo teve a participação de Karina Bispo da Silva, uma aluna indígena Pataxó Surda, egressa do Colégio Estadual Indígena Coroa Vermelha que teve a sua escolarização da educação infantil até o ensino fundamental na Escola Indígena Pataxó Coroa Vermelha.
Durante a realização das entrevistas, contou com a participação da tradutora intérprete da Libras, Fernanda Fernandes, da professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) Rosinete Pereira, da professora indígena surda Shirley Vilhalva e dos professores e direção do colégio e da escola.
O pesquisador contou que conseguiram discutir e inserir a pauta das LIS e em específico a Língua Indígena Pataxó de Sinais (LIPS) do local ao nacional em eventos em instituições no Brasil e no exterior. “Reunimos indígenas surdos e indígenas ouvintes de diferentes povos/etnias e regiões do Brasil para o movimento em prol da vitalização, preservação e valorização das Línguas Indígenas de Sinais no Brasil contribuindo para a Educação de Indígenas Surdos nas comunidades originárias”, relatou.
Segundo David Kaique, a pesquisa é um retorno presente em respeito à sua acolhida pelo povo Pataxó no Sul da Bahia. “Não nasci em Coroa Vermelha, cheguei nessa terra linda no ano de 1997 e fui muito bem acolhido. Tenho alunos indígenas pataxós surdos e eles também merecem respeito, valorização, visibilidade e a garantia dos seus direitos linguísticos”, afirmou.
O pesquisador relatou que enquanto pesquisador e professor, atuando na Educação de Surdos e Indígenas Surdos entende que essa pesquisa possibilita a discussão por políticas educacionais e políticas linguísticas na luta pela oficialização da LIPS.
E conclui com um trecho da pesquisa que considera importante e faz refletir sobre esse processo de escrita e de respeito pela língua dos nossos parentes Indígenas Surdos que é ”compreendendo o surdo, seja ele indígena, brasileiro, como pertencente a um povo que tem uma cultura, tem uma identidade e essa identidade, no caso dos indígenas surdos, se consolida a partir das Línguas Indígenas de Sinais” (Santos,2024).