Com mais de 40 anos dedicados à Administração Pública, Maria Creuza Viana, chefe da Procuradoria Jurídica da Uesb, fez da exceção a regra da sua vida. Mulher, negra, filha de arrumador de cacau e costureira, como ela mesmo faz questão de contar, já na década de 1970, mostrou que lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive em cargos de liderança, independentemente de sua raça ou origem.
“Curiosamente, entrei na Administração Pública, concomitantemente, com o ingresso na Universidade – à época, Federação das Escolas Superiores de Ilhéus e Itabuna (Fespi), atualmente, Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), para cursar Direito em 1977”, relembra Maria Creuza.
Naquela oportunidade, ela havia passado em três concursos, mas optou por ser servidora no Instituto de Cacau da Bahia (ICB), uma das autarquias mais importantes do Estado da época. Lá, entre outras coisas, assumiu a Diretoria Administrativa do órgão e, mais tarde, chegou ao posto de chefe da Procuradoria Jurídica. Em 1989, ela encarou um outro grande desafio: implantar a Procuradoria Jurídica da Uesc, colaborando com as primeiras normas estatutárias e regimentais da Instituição, que acompanharam a Carta-consulta para obtenção da autorização da Universidade.
Já a partir de 2004, uma nova oportunidade surgiu e ela passou a fazer parte do quadro funcional da Uesb. Já se somam mais 15 anos à frente da Procuradoria Jurídica da Universidade. “Orgulho-me muito do meu trabalho, do espaço que conquistei, que é o resultado de toda minha luta diária, de toda minha incessante busca pelo conhecimento e de todo meu empoderamento, que carrego desde a juventude”, destaca a procuradora.
Ela, no entanto, faz parte de uma estatística que representa a força do machismo na sociedade. Segundo o Conselho Nacional de Direitos da Mulher, apesar da participação feminina representar cerca de 44% dos servidores na Administração Pública, desse total, apenas 13% ocupam cargos de decisão. “Efetivamente, é, ainda, muito aquém a representatividade da mulher em cargos da Administração Pública, mas, lentamente, estamos conquistando direitos e ganhando espaço no mercado de trabalho. Porém, mesmo com a representatividade feminina tendo ganhado força, a desigualdade de gênero, o ‘sexismo’, no trabalho ainda é uma realidade”, afirma Maria Creuza.
Segundo ela, é fundamental para as mulheres ocuparem cada vez mais espaços que antes eram reservados apenas para homens, mesmo enfrentando desafios maiores, oriundos de aspectos históricos, sociais e culturais. Por isso, de acordo com a procuradora, é necessário que a mulher vá à luta, seja perseverante em busca de seus ideais e de seus objetivos: “o empoderamento feminino traz isso como um dos principais objetivos, que é a diminuição da desigualdade que ainda existe no mercado de trabalho”.
Liderança feminina – Na história da Uesb, muitas mulheres ajudaram a construir o nome da Universidade, que hoje é referência nacional. Uma delas é Walquíria Leda Albuquerque. Ela é a única reitora que a Uesb teve até hoje. Walquíria assumiu o comando da Instituição entre 1983 e 1987, quando a Uesb dava seus primeiros passos. Assim, a então superintende, teve papel decisivo na implantação da Universidade, pois foi nesse período que diversas ações básicas foram executadas, visando a autorização de funcionamento da Uesb.
“Legislação, Carta-consulta, regimento, quadro de carreira profissional, com apoio da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão da Universidade Federal da Bahia (Fapex/Ufba); ações perante o Conselho Estadual de Educação (CEE) e o Conselho Federal de Educação (CFE) para autorização e reconhecimento dos cursos; apoio e incentivo à qualificação do corpo docente e administrativo” foram algumas dessas ações, lembra Walquíria.
Especialista em Administração Universitária, para ela, estar à frente de uma Instituição que ainda estava nascendo foi desafiador, mas Walquíria conta que com o apoio da equipe administrativa e da comunidade acadêmica, foi possível fomentar essas questões básicas de infraestrutura da Uesb.