Você sabia que mais de 3 milhões de pessoas morreram no ano de 2016 em decorrência do uso abusivo de bebidas alcoólicas? Isso significa dizer que uma em cada 20 mortes no mundo aconteceu por conta do álcool e em mais de 75% dos casos, as vítimas foram homens, segundo dados publicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O alcoolismo pode acometer as pessoas em qualquer idade e se perpetuar ao longo da vida. É possível desenvolver essa dependência em uma etapa em que a pessoa esteja fragilizada diante de outros fatores, tais como a solidão, a aposentadoria ou a própria limitação em relação ao que o seu corpo não consegue mais responder.
Apesar do consumo de bebidas alcoólicas ser mais prevalente entre os jovens, o aumento do uso dessa substância por pessoas idosas é considerável. Por isso, desde 2018, o psicólogo Janderson Carneiro vem desenvolvendo a pesquisa “O consumo de bebidas alcoólicas e processos de envelhecimento: entre memórias e representações sociais” no Doutorado em Memória: Linguagem e Sociedade da Uesb.
Por que os idosos têm buscado o álcool? – Isso pode estar associado a um processo de envelhecimento cada vez mais intenso, como revelam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) contínua, realizada em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com essa pesquisa, o número de idosos no Brasil ultrapassou a marca dos 30 milhões, em 2017. “Diante desse ritmo de envelhecimento, surgem problemas decorrentes de tensionamentos psicossociais”, explica o pesquisador. Segundo ele, essas tensões podem estimular o aumento do uso de bebidas alcoólicas e também fazer com que idosos que não tiveram o hábito de consumo do álcool em outras etapas da vida passem a buscar a bebida por conta dos novos eventos que caracterizam essa fase.
A pesquisa do doutorando, que contou com a coleta de dados e a realização de entrevistas semiestruturadas, mostrou os impactos do alto consumo para essa população. “Para os idosos, o uso de bebidas alcoólicas provoca prejuízos de múltiplas ordens como dificuldades financeiras, conflitos familiares, adversidades no setor de trabalho e muitas outras disfuncionalidades sociais e afetivas que os entrevistados atribuíram, exclusivamente, ao fato de consumirem bebidas alcoólicas”, sublinha.
Impacto social e intervenção – Quando isso acontece, qual a reação das pessoas? “Nossa sociedade incentiva o consumo da bebida alcoólica, por ser uma droga legalizada, mas não acolhe as pessoas que desenvolvem a dependência dessa droga”, reflete a professora Luci Mara Bertoni, orientadora do assunto.
Para apontar caminhos, continua a pesquisadora, é de suma importância o desenvolvimento de pesquisas sobre alcoolismo para repensar as vivências e as políticas de enfrentamento aos prejuízos individuais e sociais do uso abusivo ou da dependência do álcool. Isso porque pesquisas como a de Janderson podem fornecer dados para que os serviços de saúde mental elaborem e aperfeiçoem políticas públicas.
“Isso possibilita o desenvolvimento de práticas e estratégias de promoção à saúde e redução dos agravos que acometem os idosos alcoolistas, assim como pode despertar elementos que orientem os profissionais de Saúde Mental a elaborarem projetos terapêuticos destinados, exclusivamente, para a população com idade igual ou superior a 60 anos”, destaca a professora.