O envelhecimento populacional traz desafios consideráveis que asseguram a atenção à saúde e uma boa qualidade de vida dos idosos. A farmacoterapia constitui uma das principais formas de tratamento para essa faixa etária e isso pode levar a sérios problemas de saúde pública, se não for seguido corretamente. Levando em conta o crescente uso de smartphones nesse público, os recursos tecnológicos inovadores podem representar uma ferramenta revolucionária para incentivar práticas de autocuidado, promover o hábito de vida saudável e consequentemente melhorar a autonomia e qualidade de vida na terceira idade.
Recentemente, uma nova versão de um aplicativo voltado para medicamentos potencialmente inapropriados (MPI) foi criada na Uesb, pela professora Welma Wildes, do Departamento de Ciências da Saúde, em parceria com o Instituto de Gestão de Projetos Sociais (SocialTech). O projeto visa melhorar a prescrição de medicamentos adequados para idosos. Essa parceria teve início em 2009 com o projeto de Avaliação Multidimensional do Idoso, que incluiu uma pesquisa domiciliar com essas pessoas, registradas em três unidades de saúde familiar em Vitória da Conquista, na Bahia.
Diante dessa pesquisa, foi observado que 34,5% dos idosos da região utilizavam pelo menos um MPI, sendo que os principais fatores associados ao uso destes medicamentos foram: baixa escolaridade, raça negra, uso de quatro ou mais medicamentos diários, receber medicamentos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e o uso de medicamentos prescritos por médicos.
Essas descobertas foram atribuídas à falta de conhecimento dos médicos sobre MPI e à escassez de opções terapêuticas mais seguras disponíveis para idosos no SUS. Para gerar redução de prescrição de MPI, foram desenvolvidas estratégias para conscientizar os profissionais de saúde que cuidam de idosos sobre os riscos associados ao uso desses medicamentos.
Uma dessas estratégias foi o desenvolvimento de um aplicativo móvel para facilitar o acesso ao conhecimento sobre MPI, auxiliando na prescrição apropriada, promovendo tanto a redução da prescrição desses medicamentos quanto a descontinuação dos MPI já em uso, além de permitir o monitoramento ativo dos pacientes para uso desses medicamentos apenas quando necessário.
O aplicativo MPI Brasil foi desenvolvido com base nos critérios do Consenso Brasileiro, recebeu o prêmio de terceiro melhor tema livre de Gerontologia durante sua apresentação no Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia em 2018. Na época estava sendo desenvolvido um ensaio clínico para testar a eficácia do aplicativo, um ano após a final da coleta de amostragem da fase pós-intervenção do ensaio clínico, o aplicativo foi disponibilizado gratuitamente no Google Play, com retornos positivos destacando sua utilidade na prática clínica para o cuidado dos idosos. Atualmente, os dados do ensaio clínico estão em fase final de análise para publicação.
A professora Welma destaca a relevância social que o projeto possui, possibilitando que o conhecimento gerado no meio acadêmico seja acessível aos profissionais de saúde que trabalham diretamente com idosos, indo além dos limites dos artigos científicos. Assim, esses profissionais podem aprimorar o cuidado aos idosos, seja reduzindo a prescrição de MPI, interrompendo o uso de medicamentos que não são mais necessários, ou monitorando de perto o uso de medicamentos indispensáveis para garantir uma farmacoterapia mais segura.
“A prescrição de MPI para idosos está associada ao aumento do risco de reações adversas graves, muitas vezes preveníveis, como quedas e delirium, aumento de internação hospitalar e da mortalidade, como também um risco aumentado de dependência funcional e institucionalização”, destacou a professora. Wildes complementa que o desenvolvimento dessa estratégia também reduzirá também o impacto econômico para o sistema de saúde.