“Quando o capitalismo entra em crise, o primeiro alvo para que ele não perca o que acumulou é a classe trabalhadora”. A fala da professora do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCSA), Marisa Oliveira, fez parte da mesa de abertura da 19ª Semana do Administrador (Semad), no campus de Vitória da Conquista. O evento teve início nessa terça, 29, e segue até a quinta, 31.
Integrante da comissão organizadora, a professora Marisa assina a exposição “Névoa do Sertão: alimento, trabalho e memórias”, que integra a programação da Semad com fotos que documentam as relações trabalhistas e sociais de homens e mulheres que desenvolvem atividades em farinheiras de comunidades rurais da região. A exposição é resultado da pesquisa da professora no curso de Doutorado em Memória: Linguagem e Sociedade, na Uesb.
“Eles fazem parte de um modo de vida particularizado, podem passar de forma despretensiosa sob nossos olhares acelerados da vida cotidiana, mas existem. Muitas vezes, são invisíveis diante do poder público. São trabalhadores que geram riqueza e que dependem de uma forma especial de produzir para garantir sua subsistência”, explicou a professora.
Segundo ela, esse capital de ofício vem sendo sequestrado pela grande indústria e é possível perceber ali a realidade de inúmeros trabalhadores que compõem a sociedade. “É esse trabalhador que eu me dedico a contemplar, teoria e prática. Lembrar sempre como nos ensina Marx: quem gera riqueza nessa sociedade é a classe trabalhadora e não o capital”, ponderou.
19ª Semana do Administrador – Dessa forma, a professora defendeu que os trabalhadores assumam o papel de protagonistas da história do ser social. A proposta conduz à temática central desta edição da Semad, “As relações de trabalho na sociedade contemporânea”, que também utilizou a arte em suas peças de divulgação, como a obra “Operários”. “Tarsila do Amaral apareceu pra gente, de forma muito nítida, nesse momento que urge de sucateamento da categoria trabalhador”, lembrou a professora Marisa.
O casamento com a arte desde a divulgação não foi por acaso. De acordo com a coordenadora do evento, também professora do DCSA, Madalena Souza, o objetivo foi de propor a reflexão sobre as relações trabalhistas em uma perspectiva multidisciplinar, no atual momento de transformação social. “A proposta foi discutir a temática além da centralidade econômica, ou seja, quem é esse indivíduo, qual o papel dele na sociedade e como estamos nos movimentando nesse contexto”, definiu a docente.
Assim, a Semana do Administrador está atraindo não só estudantes como profissionais de outras áreas. A conferência de abertura foi ministrada pela jornalista, publicitária e doutoranda em Educação, Mariana Domitila. A professora da Universidade de Sorocaba e da Fundação Getúlio Vargas (FGV) falou sobre “O Lugar do Trabalho na Sociedade: Realização e Consumo”.
Como estudiosa de Zygmunt Bauman, o objetivo foi de propor reflexões em um viés mais sociológico e filosófico. Para ela, é necessário atentar-se aos limites de desempenho que, muitas vezes, o mercado exige e são impossíveis de serem alcançados. “É muito importante a universidade, tendo essa integração com a comunidade, ajudar o trabalhador, seja ele de que contexto for, a entender o seu papel enquanto sujeito e não enquanto coisa, máquina, objetivo, porque ele não é”, destacou.