A partir da exibição do documentário “Precisamos Falar do Assédio”, desenvolvido pela Mira Filmes, o Laboratório de Filosofia e Gênero Valdelice Soares, do campus de Vitória da Conquista, promoveu um momento de discussão em torno do assunto. A iniciativa surgiu da necessidade de debater o tema dentro da Universidade, como forma de conhecer os diversos tipos de assédios sofridos, principalmente, pelo público feminino, e também de contribuir para que tal prática não seja encarada como algo normal pela sociedade.
O documentário “Precisamos Falar do Assédio” apresenta depoimentos de mulheres vítimas de todos os tipos de assédio, sob um olhar bastante particular, já que não há mediação dos diretores do filme. Para o professor Anderson Araújo, coordenador do Laboratório, isso possibilita que se tenha uma visão direta para o problema. “O filme traz o impacto dos depoimentos, mas é uma tendência da nossa sociedade não reconhecer essas falas. Então, acredito que esse debate é importante para que possa haver uma conexão entre o que elas falam e a naturalização social de determinadas práticas, uma vez que há um entendimento errado de que algumas são puníveis e outras não”, afirmou o professor.
Araújo esclareceu ainda que “as práticas de assédio são relações estranhas no sentido de exercer um poder sobre o outro de forma não consensual, o que impede a manifestação da vontade do outro e subalterniza o sujeito”. Para o coordenador, é necessário que temáticas como essa estejam sempre em pauta, especialmente no ambiente acadêmico. “Acho que precisamos criar uma mentalidade sobre essas questões de forma processual, ou seja, precisamos discuti-las constantemente para que essas problemáticas não se naturalizem”, concluiu.
A advogada e também formanda do curso de Ciências Sociais Aline Gusmão, que participou do evento, também acredita que a universidade precisa pautar sempre esse tipo de assunto, não apenas em caráter informativo, mas também reflexivo. “Nós naturalizamos algumas condutas que, na maioria das vezes, são configuradas como crimes e, no final das contas, essas pessoas que são colocadas como vítimas são silenciadas, são esquecidas. Então, a figura da mulher, como da mulher trans e travesti, por exemplo, precisa ser vista, ouvida e para isso é importante espaços de discussão como esse”, destacou Gusmão.