Cuidados com saúde física e mental de cuidadores refletem nos pacientes
Descoberta em 1906, a Doença de Alzheimer, geralmente, se manifesta a partir dos 60 anos de idade, provocando perda da capacidade cognitiva e da memória, demência, além de destruir as funções do cérebro. Sem cura, o Mal de Alzheimer é, ainda hoje, um grande desafio para a ciência e objeto de investigação para diversos pesquisadores.
Para quem convive com os pacientes diagnosticados com a doença, não é diferente. Nesse caso, o desafio está na demanda de cuidados e atenção, e em buscar formas de atuação que podem até mesmo auxiliar no tratamento do Alzheimer. É pensando nisso que a professora Luana Andrade, do Departamento de Saúde 2 da Uesb, vem desenvolvendo estudos científicos voltados, especialmente, para os cuidadores que lidam com pessoas com a doença.
Com um grande nome, repleto de significado, a pesquisa intitulada “Sentido da construção coletiva de grupos de ajuda mútua integrando familiares cuidadores de pessoas com Doença de Alzheimer na comunidade: perspectiva libertadora” resultou em uma tese de Doutorado em Enfermagem e Saúde, feita pela professora. O objetivo, no entanto, é sucinto: cuidar de quem cuida.
Quem são os cuidadores? – “Como não há cura, nem uma conduta preventiva 100% eficaz, o único ‘tratamento’ é o cuidado diário”, explica a pesquisadora. “No entanto, o dia a dia é extremamente desafiador, cansativo e estressante para o cuidador principal”, complementa. Segundo ela, o perfil desse cuidador, geralmente, é preenchido pela mulher, podendo ser a esposa, a filha, a nora etc.
Realizada nos anos de 2018 e 2019, a pesquisa se dividiu em duas etapas e teve o objetivo de compreender a vivência desses familiares, além de enfermeiros e agentes comunitários de saúde. A proposta considerou a relação da participação dos cuidadores de pessoas com a doença de Alzheimer na construção de grupos de ajuda mútua, em um contexto mais amplo: o comunitário.
A primeira etapa foi de intervenção, com a implantação de Grupos de Ajuda Mútua em duas unidades básicas de Saúde da Família do município de Jequié, envolvendo ativamente cuidadores, familiares e trabalhadores da Saúde (enfermeiras e agentes comunitários). A segunda fase contou com três encontros do Grupo Focal, formado por 12 mulheres, seis delas de cada grupo implantado nas unidades de saúde.
Esposas, filhas, noras ou outras mulheres da família se responsabilizam pelos cuidados dos pacientes com Alzheimer
Diálogo e entendimento do outro – A vivência no processo de implantação dos grupos está relacionada a uma experiência de transcendência ao que a pesquisadora cita como “outro eu mesmo”. “Aos poucos, vamos transcendendo, modificando, atualizando a nossa maneira de ser no mundo, de cuidar de si, do outro e da nossa comunidade”, esclarece. Assim, segundo ela, a expressão mostra esse outro que nos tornamos a cada instante e que traz consigo vivências do passado, ressignificadas a cada nova experiência. Por isso, somos “um outro”, mas também nos mantemos “eu mesmo”.
A pesquisa revelou ainda que, para sensibilizar integrantes dos Grupos de Ajuda Mútua na busca de sua autonomia, empoderamento e libertação, foi importante o diálogo, envolvimento, aproximação com o outro e valorização da intersubjetividade. “É imprescindível a aproximação com aquilo que desejamos saber mais, para que possamos, juntos, elaborar uma nova compreensão sobre determinado conhecimento”, defende Luana.
Com isso, a pesquisadora conclui: “o cuidado não pode ser pensado para o outro, mas sim com o outro. A construção de Grupos de Ajuda Mútua não pode ser pensada para os cuidadores, e sim com os cuidadores”.
Impacto social – A pesquisa estreitou os laços entre os cuidadores e a Universidade, possibilitando ainda a criação de novos Grupos de Ajuda Mútua na comunidade onde vivem essas pessoas. “Estamos contribuindo com a saúde física e mental de pessoas, com interação social, interatividade e, consequentemente, refletindo nos idosos. A pesquisa da Uesb está contribuindo com a saúde desta população, tanto dos cuidadores quanto das pessoas que eles cuidam”, ressalta a professora Edite Lago, orientadora da pesquisa e coordenadora do Grupo de Ajuda Mútua integrando familiares cuidadores de pessoas com doença de Alzheimer (GAM) da Uesb.