A Filosofia caracteriza a distopia como uma sociedade imaginária controlada de forma opressiva pelo Estado ou por outros meios extremos, de maneira que as condições de vida dos indivíduos se tornam insustentáveis. Muito comum na ficção literária ou cinematográfica, a distopia é geralmente associada ao futuro.
No entanto, para o professor Juan Baqué, da Federación Icaria, na Espanha, essa já é uma descrição do presente. Ele foi o responsável pela conferência de abertura do 13º Colóquio Nacional e 6º Colóquio Internacional do Museu Pedagógico – Casa Padre Palmeira, em Vitória da Conquista.
“Considero que a distopia não é a representação de algo futuro, mas que é a realidade. Vivemos em um mundo dominado pelo capitalismo, pela primeira vez, em trinta anos. E o capitalismo é um sistema de morte, é incompatível com a vida”, definiu o professor.
A palestra aconteceu na noite dessa terça, 15, e iniciou oficialmente os eventos que reúnem pesquisadores de diversas regiões do país e também da Argentina, Alemanha e Espanha. “Falar disso para o Brasil, para a América Latina, ainda mais neste momento é, por minha parte, um atrevimento”, ponderou o professor Juan.
Isso porque, segundo ele, há uma preocupação com o atual cenário brasileiro. “Creio que o Brasil é um paradoxo: um dos países em que as lutas dos movimentos sociais como Sem Terra, Sem Teto e Ecofeminismo são um exemplo para o mundo. Porém, por outro lado, temos uma situação política que é esmagadora”, continuou. De acordo com o pesquisador espanhol, o Brasil é o “país que está experimentando, possivelmente, esse projeto mais bárbaro e mais cruel”.
Como enfrentar a distopia – A temática dos Colóquios foi definida com olhos atentos a essa realidade. É o que explica a professora Lívia Magalhães, coordenadora dos eventos: “diante do mundo conservador, dos processos cada vez mais distópicos, da barbárie avançando sobre todas as áreas humanas, sociais e científicas, elegemos o tema para discutir também as contraofensivas que precisamos apontar como alternativas para alcançar novas utopias”.
Nesse sentido, o professor Juan vislumbra que “a contraofensiva não pode perder de vista duas questões: em uma parte estamos diante de um colapso do meio ambiente e, por outra parte, temos que reagir a um capitalismo totalitário”.
Destacando o papel da universidade pública nessa contraofensiva, o reitor da Uesb, professor Luiz Otávio de Magalhães, lembrou dos ataques sofridos por essas instituições. “Está acontecendo aqui um movimento de resistência a favor do debate e do aprofundamento da ciência e do conhecimento”, defendeu.
Assim, em sua fala de abertura, o reitor reforçou que o ambiente universitário é baseado na ideia da emancipação humana, da transformação social e da educação como liberdade. “É importante que a gente continue afirmando que, na universidade, não podemos aceitar nunca a indiferença com a dor, a injustiça e a tirania. A universidade não vai abrir mão da defesa dos seus princípios elementares da justiça, da igualdade e do combate à discriminação de todas as formas”, concluiu.