Desde 2004, foram incluídas obras cinematográficas entre os conteúdos cobrados no Vestibular da Uesb. Nesse sentido, o Janela Indiscreta Cine-Vídeo é o responsável por selecionar os longas-metragens e exibi-los nas cidades onde a prova é aplicada (Itapetinga, Jequié e Vitória da Conquista), além de disponibilizar comentaristas das obras por meio do projeto “Cinema: Eis a Questão”.
Em Itapetinga, as exibições tiveram início na última terça-feira, 12, com o filme “O grande ditador”. Filipe Brito, vinculado ao Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) da Universidade e um dos comentaristas desta edição, apontou a transcendência temporal das obras escolhidas que permanecem com temáticas atuais. “Foram escolhas muito interessantes por causa da relevância das obras. ‘O Grande Ditador’ é um clássico do cinema mundial, é uma obra que reflete sobre um monte de questões. Na exibição, deu para perceber que é um filme impactante, mobilizador e mostra o quanto a arte, especialmente o cinema nesse caso, tem a capacidade de mobilizar por décadas. É um filme da década de 1940 e que até hoje traz questões sobre as relações humanas, políticas, sobre o fascismo e tantas outras questões importantes”, avaliou.
Na noite de quarta-feira, 13, o projeto exibiu o documentário nacional “Ex-Pajé”. Para a professora Marcela Pessoa, do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas (DCSA) da Uesb, os filmes selecionados nessa edição ajudam na divulgação do cinema como uma forma de expressão cultural em termos da realidade, sobretudo o documentário “Ex-Pajé”.
“Esse documentário traz esse panorama de um conflito que nós brasileiros temos em termos existências. ‘Quem somos nós em termos de constituição enquanto sujeitos’? Os donos primeiros dessa terra, que são as sociedades originarias, são extremamente desprestigiadas na sociedade brasileira. No atual momento político e econômico, a gente está vendo um recrudescimento significativo dos direitos desses povos, além dos direitos sociais dos trabalhadores como um todo, mas, sobretudo, desses povos que se afirmam como uma sociedade guerreira e que sobrevive há 519 anos de conflitos em relação a esse não reconhecimento”, comentou Pessoa.
Novos olhares – Já o professor Cláudio Carvalho, ligado ao DFCH, destacou a visibilidade que o projeto dá a filmes de um circuito não comercial. Para ele, é uma possibilidade de o aluno “ampliar o seu acervo mental, a sua capacidade crítica, reflexiva, que um filme comercial não tem, necessariamente, essa preocupação. Então um documentário, um filme que é muito mais reflexivo, nessa perspectiva de uma narrativa mais crítica, tem essa preocupação”, destacou.
Outro elemento evidenciado pelo docente é a possibilidade de ter comentadores formados em diversas áreas do conhecimento. “Eu, por exemplo, sou da área do Direito, a professora Marcela é da área das Ciências Sociais e Filipe é de Cinema. Cada um traz um enfoque que, no final das contas, o aluno terá uma perspectiva muito mais ampla do filme: da narrativa, estrutura e estética do filme; do ponto de vista das questões estruturais da sociedade nas Ciências Sociais; e, por fim, [de como] a legislação vai desenhar, ajudar auxiliar esse processo. Então, o aluno sai daqui com uma visão mais aberta de uma obra como o filme Ex-Pajé”.
Para Helem Silva, candidata ao curso de Pedagogia da Uesb, o comentário após a apresentação do filme é de suma importância para esclarecimento das dúvidas, além de ampliar as possibilidades de discussão para a redação, por exemplo. “Eu achei uma oportunidade incrível ter acesso a obra e ter comentários também. Isso me possibilitou entender melhor o filme e a sua dinâmica para fixar melhor o que foi abordado. Algumas partes do filme que foram confusas para mim, eu consegui compreender melhor com os comentários e, assim, entender melhor o tema central do filme”, pontuou a vestibulanda.
A exibição do filme “Abrigo Nuclear”, do diretor baiano Roberto Pires, aconteceu na quinta-feira, 14, encerrando as exibições do projeto em Itapetinga. De 26 e 28 de novembro, os filmes serão apresentados em Jequié, no Auditório do Centro Estadual de Educação Profissional Régis Pacheco (Ceep), também com comentários e entrada gratuita.