A reflexão sobre os valores humanos e sociais, assim como a conscientização a respeito da memória, cultura e ancestralidade africana e afro-brasileira devem ser atividades constantes para a promoção e exercício da cidadania. Nesse sentido, como forma de valorização e disseminação de conhecimento sobre a cultura Afro no Brasil, teve início na noite da última terça-feira, 19, a Semana da Consciência Negra, com o tema “Ancestralidade, cultura e respeito”, em Itapetinga.
Por meio da música, dança, exposição fotográfica, literatura, gastronomia e moda, que são aspectos relevantes e visíveis dessa cultura, o projeto propôs discutir questões sociais como forma de proporcionar aos participantes do evento um processo de amadurecimento e conscientização sobre os temas ligados à essas culturas. Para Luciano Lima, coordenador de Extensão, Esporte e Cultura, discutir sobre essas questões é um tópico de grande relevância para a construção de um pensamento social e para que as diferenças sejam respeitadas.
“É preciso falar de consciência negra para dar ao negro seu lugar de empoderamento, que durante muito tempo foi silenciado, foi colocado na invisibilidade. Então, é necessário esse movimento de resistência e de força para mostrar a importância do negro na formação dessa diversidade cultural que compõe o povo brasileiro”, destacou Lima.
Quebra de paradigmas – Além disso, ele salientou que a realização de atividades como essa é de interesse social, uma vez que as discussões suscitadas no espaço acadêmico é uma das formas de manter viva a memória e a identidade cultural de um povo, que por muito tempo teve suas origens menosprezadas, bem como um meio de resgatar referências e quebrar paradigmas como aqueles relacionados à beleza negra, por exemplo. “Quando a gente trabalha com esse processo de descolonização do pensamento, a gente começa ver a beleza em outras maneiras, em outros paradigmas, em outros modelos. Antigamente, as mulheres negras eram obrigadas a alisarem os cabelos, porque os cabelos lisos eram tomados como o único paradigma de beleza, de estética. Então, quando a gente vê hoje o Black Power, as pessoas assumindo os seus cabelos com as tranças, dreads, enfim, é uma forma de resistência, de mostrar a força de sua ancestralidade, e de mostrar também que existem outros paradigmas de beleza” sublinhou Lima.
Para Daiane de Souza, rainha do bloco Afro Malêdebalê, em Salvador, poder exibir sua identidade de mulher negra também por meio dos cabelos causa grande satisfação. “Para mim é um motivo de orgulho, pois a gente vem de uma cultura em que mostrar as nossas verdadeiras raízes: cabelo crespo, curto é tudo muito estranho para sociedade. E para mim é motivo de muita alegria. Hoje as pessoas fazem questão de assumir o cabelo no seu natural, porque hoje existe essa liberdade, não tem mais essa questão que existia antigamente de que o estereótipo de mulher bonita é cabelo liso, escorrido, então viva a diversidade. É bonito tanto o cabelo liso como o cabelo crespo”, ressaltou.
Como forma de demonstrar a diversidade expressa em cabelos e adereços, Daiane Souza, que também é esteticista, ministrou uma oficina de penteados afros e uso de turbantes. Além disso, os participantes do evento tiveram a oportunidade de conhecer mais a respeito das entidades cultuadas nas religiões de matriz africana por meio de uma exposição fotográfica, com o objetivo de desenvolverem um olhar mais crítico e autônomo sobre a cultura negra e, assim, confrontarem atitudes racistas e preconceituosas a partir da informação e do conhecimento.
Para Henrique Luis da Salva Santos, pesquisador colaborador da Universidade, “essa iniciativa é muito interessante porque desmistifica para a sociedade, não apenas acadêmica, essa questão de que as religiões de matriz africana cultuam o mal”, frisou Santos. As ações desenvolvidas na Semana da Consciência Negra acontecem até sexta-feira, 22.