Sinônimo da quarta fase de desenvolvimento da Revolução Industrial, a indústria 4.0 é uma realidade mundial. Para buscar compreender como esse cenário vem se estabelecendo no Brasil, a 18ª Semana de Economia acontece até a próxima sexta, 8, no campus de Vitória da Conquista.
“Essa indústria 4.0 vem com a internet das coisas, que são coisas conectadas ‘conversando’ entre si, com a inteligência artificial, e com toda a robótica se desenvolvendo e entrando em nosso sistema produtivo e de serviços”, explicou um dos organizadores do evento, o aluno Kattson Bastos. De acordo com ele, no Brasil, a agropecuária se destaca como a área que está mais próxima dessa conjuntura global. “Já se fala de agropecuária 4.0, de inteligência artificial e de aplicativos na agropecuária. Isso caracteriza um debate muito incipiente, no Brasil, porque nós não temos, e aí a gente tem as divergências, uma estrutura para comportar essa indústria”, complementou.
Para debater essa perspectiva, o tema do evento “Os desafios para a economia brasileira em um contexto de indústria 4.0” foi definido a partir de uma demanda dos alunos do curso, “e visa refletir a respeito desse tipo de aplicabilidade da indústria no nosso país”, apontou o estudante.
A crise da economia brasileira – Identificar os principais elementos que explicam a crise brasileira atual e traçar perspectivas de recuperação econômica foram os pontos de partida para essa reflexão. A palestra de abertura “A crise da economia brasileira: conjuntura e perspectivas” foi conduzida pelo professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Eduardo Pinto, nessa segunda, 4.
“A crise brasileira, na verdade, é atravessada por três dimensões: uma crise de acumulação, uma crise política e uma crise institucional”, definiu o professor. Ele apresentou cada uma, associando a crise de acumulação às atuais mudanças na gestão da macropolítica econômica, “como as reformas do teto dos gastos, que impedem, inclusive, maior atuação fiscal no sentido do investimento público como o motor de arranque para incentivar o crescimento econômico nesse momento”, pontou. Ao mesmo tempo, segundo o professor, existe “uma crise política pela perda de representação de determinados segmentos da sociedade, ou seja, uma disputa entre Executivo e Legislativo”.
No entanto, para o docente, o que mais se destaca nesse momento é a crise institucional. “As instituições continuam existindo, mas elas perdem legitimidade e a capacidade de projetar o futuro, então fica impossível pensar em mais investimento, que são decisões de longo prazo, com as grandes incertezas em curso”, discorreu o professor. Para ele, “um dos elementos associados a essa incerteza é a forma como a Lava Jato foi constituída para combater a corrupção. Ou seja, como as instituições e a instabilidade hoje tem gerado uma crise institucional”.
Nesse sentido, o professor projetou que as perspectivas não são boas, com a previsão de uma baixa taxa de crescimento para os próximos anos. “Esse tipo de crescimento que está sendo estruturado hoje é para um Brasil de 60 milhões. E os outros 140 milhões?”, questionou.
O economista vislumbrou um cenário ainda pior para a inserção do país no contexto da indústria 4.0. “Nós perdemos a segunda Revolução Industrial e estamos completamente longe da inserção na quarta. Nós perdemos isso porque não investimos em tecnologia, o nosso fomento industrial é muito restrito. Estamos indo para economia de serviço, sem termos avançado em ganho de produtividade”, comentou. Assim, o professor não enxerga saídas, no curto prazo. “Vamos ter uma trajetória de crescimento baixo, com aumento da desigualdade e com o mercado de trabalho mais precarizado”, concluiu.