Com o objetivo de refletir sobre a importância de implementar políticas educacionais voltadas para a educação escolar quilombola, foi realizado no último sábado, 14, o Seminário sobre “Educação Escolar Quilombola”. O evento contou com a participação de professores de comunidades quilombolas, pesquisadores e pedagogos.
Durante a atividade, uma das discussões girou em torno de um dos maiores desafios dessa temática, que é definir atualmente o que é uma comunidade Quilombola, pois, de acordo com o professor da Uesb, Benedito Gonçalves, é importante distanciar da concepção de Quilombo Histórico e se aproximar do conceito de uma Comunidade Quilombola. Segundo o professor, o parâmetro para investigar essa definição parte da premissa que o sujeito é quem se autodeclara, ou seja, se a comunidade se enxerga como Quilombola, o Estado posteriormente deve buscar elementos que são característicos da cultura afro, para então legitimar aquela comunidade. “É importante pensar na via da resemantização, ou seja, produzir um novo sentido do termo quilombola, que é o que a Associação Brasileira de Antropologia faz, e é o que nos tem orientado a pensar como seria uma educação específica para esse sujeito”, defende Gonçalves.
E é com bases nesses elementos que a educação escolar quilombola pode ser pensada, como defende a professora Arlete Ramos, da Universidade Estadual Santa Cruz (Uesc), aponta que a educação no campo é relacionada à identidade do sujeito, pois, é uma educação que não deve ser imposta. “Isso diz respeito, principalmente, ao modo de vida, ao modo de construção dessa identidade, ao modo de produção de existência desse sujeito”, pontua Ramos.
Atualmente, no Brasil, de acordo com Gonçalves, existem em torno de 3 mil comunidades Quilombolas, porém são poucos os lugares que possuem esse reconhecimento, como apresenta a pesquisadora da Uesb, Jamile Melo. “Nós temos vários desafios nas nossas escolas, além de muitas comunidades não se reconhecerem, alguns de nossos professores, por serem da cidade, também não possuem conhecimento da realidade quilombola”, conclui Melo.
E é diante desse cenário que desde a década de 1990 existe uma mobilização social, consolidada nos anos 2000, com a Resolução Nº 8 de 20 de novembro de 2012. Nela, as principais diretrizes para a Educação Escolar Quilombola pontuam que os municípios brasileiros precisam se adequar para atender às questões identidárias e culturais que envolvam a comunidade quilombola. A palestrante Niltânia Brito, da Uesc, ressaltou que o seminário já é uma das primeiras articulações para essa implementação no município de Vitória da Conquista. “Já existe essa educação nas comunidades, o que precisamos é legitimar o saber quilombola por meio de ações”, diz.
A ideia é que os próximos passos sejam encontros com lideranças e professores locais para articular a confecção de material didático, dentre outros.