Capacidade de ser livre e independente é um dos conceitos encontrados nos dicionários para definir o termo emancipar. Já na educação, essa explicação pode ser encontrada sob diferentes perspectivas, em teóricos como Paulo Freire e Pierre Bourdieu. Mas, nas histórias de vida de Cleciana Bezerra e Anderson Dias, emancipar por meio da educação estava somente ligado em poder acordar um dia e ter acesso às mínimas condições de sobrevivência, como alimento diário, acesso à saúde e à educação, possibilidade de ajudar a família, entre outras conquistas.
Indígena da aldeia Jatobá, no interior de Pernambuco, Cleciana é descendente de parteira, sua avó, e de artesã, sua mãe, duas mulheres que a incentivaram a seguir o caminho dos estudos. Mudou-se para Recife, com o objetivo de fazer o Ensino Médio. Estudar em uma universidade particular nunca foi uma opção. Então, por meio do sistema de cotas, ingressou em Medicina na Uesb, campus de Jequié. “Inicialmente, tive medo do preconceito. Por ser cotista indígena, imaginei que não seria bem aceita, porém foi totalmente ao contrário. A Uesb me acolheu como uma mãe, tanto meus colegas, quanto todo o Colegiado de Medicina. Nunca houve discriminação quanto minhas origens”, lembra.
Formada em 2019, a médica indígena defende que a educação é a melhor forma de conseguir independência financeira. Hoje, trabalha no interior de Pernambuco, nas cidades de Floresta e Serra Talhada. Cleciana pretende fazer residência na área de Ginecologia e Obstetrícia, talvez uma herança da avó. “Ter conseguido, hoje, ser médica foi uma vitória para os meus antepassados, que tanto lutaram para sobreviver à seca que assola o meu sertão”, pontua.
Da fome na infância a professor universitário. Essa é a trajetória de Anderson Dias, que estudou Administração na Uesb e, atualmente, passou no concurso para professor na mesma Instituição. “Comecei a trabalhar aos 8 anos, para comprar minhas coisas. Trabalhei muito, mas também nunca deixei de estudar, à época, em uma escola pública”, narra. Órfão de mãe aos 12 anos, Anderson foi morar com a avó, uma das principais apoiadoras nos estudos.
Durante o Ensino Médio, estudando Matemática Financeira, ele decidiu cursar Administração. Descobriu que a Uesb é uma universidade pública, se dedicou e passou no Vestibular, sendo o primeiro da família a ingressar em uma faculdade. Ao longo do curso, aproveitou as oportunidades de estágio, Iniciação Científica, monitoria e atividades de extensão, que contribuíram para a inserção no mercado de trabalho e, também, para ingressar no curso de Mestrado, na linha de Finanças.
Agora, como professor da Uesb, Anderson pretende retribuir tudo o que recebeu durante os anos de formação. “A educação nos desafia constantemente, uma vez que rompe estruturas e nos motiva a acreditar que podemos mais, que somos independentes, capazes de sermos atuantes e resistentes em um mundo, historicamente, construído com base na dominação”, defende.
Essa e outras reportagens estão na 3ª edição da Revista Uesb