Os primeiros animais chegaram na Ilha de Abrolhos há mais de 200 anos (Fonte: arquivo pessoal dos pesquisadores)
O campus da Uesb, em Itapetinga, recebeu 21 cabras da Ilha de Abrolhos, onde viviam de forma isolada. Acredita-se que os primeiros animais tenham sido deixadas no local por navegadores, durante o período colonial, há mais de 200 anos, como forma de garantir a subsistência durante suas expedições.
As cabras são consideradas um tesouro genético pelos pesquisadores, pois conseguiram se adaptar a um ambiente com escassez de água, já que a Ilha não possui fontes de água doce. O professor Ronaldo Vasconcelos, do curso de Zootecnia, que estuda conservação de recursos genéticos, explica que essa adaptação pode estar relacionada a características específicas do DNA da espécie. “Imagine um material genético que se desenvolveu em uma ilha sem água. Esses animais têm e devem ter, na sua genética, um componente que lhes permitiu essa sobrevivência. Esperamos que isso seja confirmado pela ciência”, comenta o professor.
As cabras estão em quarentena para monitoramento do processo da adaptação
Essa característica pode ser essencial para pesquisas voltadas ao manejo e à reprodução de caprinos em regiões semiáridas. Segundo Vasconcelos, entender os genes responsáveis por essa resistência pode trazer benefícios significativos. “Esses genes podem melhorar o desempenho de animais do continente, tornando-os mais resistentes em áreas com escassez de água. Além disso, esse material genético pode ser valioso para pequenas propriedades rurais”, explica Ronaldo.
Após a chegada ao campus, os animais foram colocados em quarentena. O objetivo é monitorar a adaptação ao novo ambiente e garantir os cuidados sanitários necessários. Além disso, é fundamental mantê-los isolados de outros rebanhos, já que viveram muito tempo sem contato com doenças comuns do continente. “A primeira etapa agora é a quarentena. Precisamos adaptar esses animais ao ambiente continental, pois, na Ilha, eles estavam expostos a uma luminosidade, umidade e ventos diferentes dos que temos aqui”, destaca Ronaldo.
Os animais estão sendo monitorados, também, por veterinários
Outro fator pontuado pelo professor Ronaldo é a vulnerabilidade desses caprinos a parasitas. “Eles nunca tiveram contato com carrapatos, e um único carrapato pode ser fatal. Também não possuem verminoses. Isso não é bom, porque eles não têm resistência. Por isso, o trabalho precisa ser extremamente cuidadoso”, frisa o professor.
O professor Dimas Oliveira, responsável pela disciplina de melhoramento animal do curso de Zootecnia, destaca a relevância dessa nova população para a pesquisa científica. “Esse é um material novo, de grande interesse para a zootecnia nacional, especialmente para a criação no semiárido. Precisamos entender e avaliar suas potencialidades”, afirma Dimas.
O professor Dimas também ressalta a participação de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) na preservação desse material genético. “A Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargem) também está envolvida nesse projeto, o que demonstra a importância e o interesse na conservação desses animais”, pontua.
O processo de captura foi concluído em quatro dias, com atividades realizadas inclusive durante a noite (Fonte: arquivo dos pesquisadores)
O processo de captura – A remoção das cabras foi necessária devido ao impacto ambiental causado no solo e vegetação da Ilha pelos animais. Além disso, o local é um santuário de reprodução de aves que só existem naquela localidade. A operação contou com a participação de diversas instituições, incluindo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), a Embrapa, a Marinha do Brasil, a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) e a Uesb. Aproximadamente 20 pessoas participaram da transferência das espécies.
Aproximadamente 20 pessoas, representantes do ICMBio, Embrapa, Marinha do Brasil, Adab e da Uesb, participaram do processo de transferências das cabras (Fonte: arquivo dos pesquisadores)
“Durante o processo de retirada, identificamos os animais com brincos e microchips, além de coletarmos amostras de sangue para análise de DNA. Nosso objetivo é estudar o grau de parentesco entre eles, entender se há semelhanças genéticas com caprinos do continente e investigar sua origem”, explica Kleibe Moraes, pesquisador da Embrapa.
Caso seja confirmada a singularidade genética dos animais, a Embrapa e a Uesb deverão iniciar um plano de conservação, que incluirá a ampliação do rebanho, armazenamento de material genético (sêmen e embriões) e a distribuição para produtores rurais.