Inspiração para poesias e canções, o sertão é múltiplo em histórias e culturas, mas ainda assim é associado a diferentes formas de discriminação. Com o intuito de pensar a pluralidade dessa representação, a Uesb promoveu, até a última sexta, 6, o 1º Congresso Internacional Sertões e Sociabilidades: entre lugares, culturas e poderes.
O evento itinerante visitou as cidades de Caetité, Brumado e Rio de Contas e encerrou suas atividades no campus de Vitória da Conquista. Toda a programação incluiu conferências, mesas, oficinas, lançamentos de livros, exibição de documentários, visitas ecológicas e a vivência do espaço histórico dessas localidades.
“A ideia era exatamente da gente se deslocar até essas regiões e chamar pesquisadores, investigadores, pessoas que estão trabalhando com essa temática e falar para aquele público local”, comentou a professora do Departamento de História (DH) Grayce Souza, organizadora do evento.
Segundo ela, a temática dos Sertões faz parte das discussões da área na Uesb e, no último ano, a proposta do Congresso começou a amadurecer. “Um evento voltado para os alunos de uma maneira geral, não apenas os alunos da graduação, mas também os alunos da Educação Básica. É um projeto de fôlego”, definiu a professora.
Construção da imagem do sertão – Estudiosa da cartografia relativa aos sertões do Brasil, nos séculos 18 e 19, a professora da Universidade de São Paulo (USP), Iris Kantor, participou do Congresso com a apresentação de parte do seu trabalho, relacionado ao olhar dos naturalistas e botânicos estrangeiros. “O pensamento geográfico desses europeus influenciou na construção de uma certa ideologia geográfica. A visão que eles tinham da questão climática e da formação geológica, isso influenciou os eruditos, estudiosos e geógrafos brasileiros e na época também sertanistas”, explicou a pesquisadora.
De certa maneira, é possível ver marcas dessa influência até os dias de hoje. A professora lembra que muito dessa cartografia estrangeira foi utilizada como base. “Mas, na verdade, ela oculta muito do que se conhecia, do que já se havia acumulado, quando esses naturalistas chegaram. Eles tinham várias fontes de informação e consultavam muito os práticos e os sertanistas que conheciam bem os trajetos”, contou. “Depois, nós, brasileiros, hoje em dia, também acabamos nos baseando nessa informação e desconsiderando os saberes práticos que já existiam antes dos naturalistas chegarem”, complementou.
Nessa perspectiva, a professora reforça: é fundamental que o povo estude sobre a sua localidade. “O espaço só se torna lugar quando ele é um espaço vivido e apropriado pela população”, defendeu.