O mês de julho foi marcado pelos 80 anos da morte de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, mais famoso cangaceiro do país. Foi a partir dessa data que o cangaço, movimento social nordestino com importante espaço na história brasileira, foi abordado na ação “A morte de Lampião e a agonia do Cangaço”. Realizada pelo Departamento de História (DH), por meio do Laboratório Transdisciplinar de Estudos em Complexidade (Labtece), a atividade contemplou, em dois dias, a exibição do filme “Revoada”, de José Umberto Dias e a mesa-redonda “As interfaces do Cangaço: literatura, biografias e cenários sobre o banditismo brasileiro”, respectivamente na última terça e quarta, 21 e 22.
O evento teve como objetivo preservar a memória dos movimentos sociais sertanejos. É o que explicou a professora responsável pela disciplina de História do Brasil do DH, Ana Cláudia Rocha. “A gente precisa ter esse olhar sobre os movimentos sociais do Nordeste, e o cangaço realmente foi um dos mais importantes”, destacou.
Cena do filme “Revoada”, de José Umberto
A historiadora sublinhou ainda que, por isso, a temática tem sido constantemente foco de estudos na Universidade: “A importância de um evento como esse é trazer à luz da história sobre uma figura que é tão mistificada. A crueldade que está presente na história dos cangaceiros, as lendas todas. Então o evento traz uma visão de historiador mesmo”.
Nessa perspectiva, a exibição do filme foi seguida de comentários do professor aposentado da Uesb, Carlos Tadeu Botelho, para diferenciar os fatos históricos da ficção e de toda a mística que envolve a história de Lampião e seu grupo. O professor, que teve a iniciativa do evento, participou também da mesa-redonda que discutiu as interfaces do cangaço, a partir da morte de Lampião, com o historiador, Joaquim Antônio de Novais Filho e a concluinte do curso de História, Bianca Oliveira Santos.
De acordo com o professor Tadeu Botelho, a data foi lembrada em todo o país, e pela importância que Vitória da Conquista tem na cultura nordestina, ele propôs a ação. O docente foi o orientador da concluinte Bianca Oliveira Santos no seu trabalho de conclusão sobre mulheres no cangaço. A estudante falou sobre sua pesquisa, que surgiu ao perceber como são poucos os estudos nesse sentido. “Eu comecei a pesquisar porque as mulheres entravam para o cangaço e percebi que muitas entravam por três situações: quando raptadas; porque amavam os cangaceiros; e outras em busca da liberdade”, contou.
Para ela, tratar sobre o tema reforça a relevância dos estudos. “A abordagem desse tema é interessante, porque o cangaço, muitas vezes, é divulgado sem pesquisa. Então a gente busca mostrar a verdade, ainda que não exista verdade absoluta. A gente busca mostrar o que é mais coerente com o que aconteceu”, concluiu.