Pesquisa da Uesb mostrou que o extrato da espinheira-santa inibe a bactéria causadora da cárie. (Foto: Acervo Pessoal)
Uma planta típica do sertão baiano, usada há décadas em chás caseiros para aliviar dores de estômago, agora pode ganhar um novo papel: a prevenção da cárie dentária. É o que revelou uma pesquisa feita na Uesb, no campus de Jequié, que testou o extrato da Maytenus truncata, conhecida popularmente como espinheira-santa, contra a bactéria Streptococcus mutans, principal causadora da doença.
O estudo mostrou, que mesmo em baixas concentrações, o extrato da planta foi capaz de inibir o crescimento das bactérias que provocam as cáries. De acordo com Gabriel Cairo, egresso do curso de Mestrado em Enfermagem e Saúde da Uesb, “o resultado mais interessante foi que, mesmo em baixa concentração, o extrato já apresentava atividade antimicrobiana”.
Além disso, o pesquisador explica que os testes apontaram que o efeito antimicrobiano é comparável ou até superior à substâncias presentes em exaguantes bucais. “Isso nos dá esperança de desenvolver produtos eficazes com uma dose pequena de planta, o que é bom para o meio ambiente e para a produção em larga escala”, afirma Cairo.
Usando cultura em placas e espectrofotômetro, mostraram que o extrato, em certas concentrações, reduziu significativamente o crescimento da bactéria. (Foto: Acervo Pessoal)
Como o estudo foi feito – Para avaliar a ação da planta, os pesquisadores coletaram folhas da Maytenus truncata na zona rural de Jequié. “A Maytenus truncata é praticamente exclusiva do nosso bioma caatinga, o que torna essa descoberta ainda mais especial. Além de valorizar a nossa biodiversidade, mostramos que a ciência feita aqui pode gerar soluções para problemas de saúde pública”, destaca o pesquisador.
A planta foi processada em laboratório e transformada em extrato etanólico, que depois foi testado em diferentes concentrações sobre culturas da bactéria Streptococcus mutans, isolada de uma amostra de saliva. “Escolhemos trabalhar com uma cepa clínica, ou seja, uma bactéria real, retirada da boca de uma pessoa, e não uma amostra de laboratório. Isso dá mais realismo e confiança aos resultados”, explica Cairo.
Os testes incluíram dois métodos: análise em placas de cultura e medições com espectrofotômetro – um equipamento que mede o crescimento das bactérias ao longo do tempo. As análises mostraram que, em determinadas concentrações, o extrato da espinheira-santa conseguiu reduzir o crescimento da bactéria de forma significativa.
Com ou sem espinho? – Uma curiosidade da pesquisa foi testar extratos de folhas com e sem espinhos. Os resultados foram levemente diferentes, o que indica que diferentes partes da planta podem ter composições químicas distintas. “Como os espinhos são folhas modificadas, eles podem concentrar compostos específicos. Futuramente, podemos estudar qual parte da planta é mais eficaz e otimizar a produção do extrato”, comenta o pesquisador.
O próximo passo é testar a segurança e a eficácia do extrato da espinheira-santa em humanos, visando criar um enxaguante bucal com identidade regional. (Foto: Acervo Pessoal)
Segurança e aplicações práticas – A equipe agora planeja novos estudos para verificar se o extrato é seguro para uso em humanos, além de testar sua eficácia em condições clínicas, como em pacientes com alta incidência de cáries. “Nosso objetivo é desenvolver um produto com identidade regional. Pensamos em um enxaguante bucal que leve no nome a espinheira-santa e que valorize o Sudoeste da Bahia. Isso é ciência com raízes e com propósito”, afirma Cairo.
A pesquisa mostra o papel da Universidade como centro de produção científica comprometida com a transformação da realidade local. Cézar Casotti, professor da Uesb e também pesquisador do trabalho, pontua que em um cenário onde a saúde bucal ainda é um desafio para muitas comunidades, encontrar soluções acessíveis, naturais e eficazes pode fazer a diferença. “Esse é um exemplo claro de como o conhecimento gerado dentro da universidade pública pode impactar positivamente a vida das pessoas. A Uesb está de portas abertas para a pesquisa, para a inovação e para a valorização do que é nosso”, conclui Cézar.
A investigação foi realizada por uma equipe interdisciplinar com formações em Odontologia, Farmácia e Biologia. Liderada por Cairo, contou com a colaboração dos professores da Uesb, Cezar Augusto Casotti e Lorena Nunes, além da egressa do curso de Ciências Biológicas, Lorena Estefanie. Também integrou a equipe a professora do Centro Universitário de Excelência (Unex), Lorena Rosa.
Para conhecer a pesquisa, acesse o link disponível. Para mais informações, entre em contato com Gabriel Magalhães Cairo, responsável pela condução do estudo, pelo e-mail leirbag_@hotmail.com.
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