Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), são 820 milhões de pessoas sem comida no mundo. Somente no Brasil, em 2017, a indústria de alimentos faturou 642 bilhões de acordo com a Associação Brasileira de Indústria da Alimentação (ABIA). E por que ainda há a escassez de alimentos para muitos? Foi a partir dessa reflexão que o Programa de Pós-Graduação em Geografia realizou nesta segunda, 15, a palestra “Capital Mundializado e a Geopolítica dos Alimentos”.
No encontro, o professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Lucas Lima, abordou aspectos históricos das questões relacionadas ao processo de produção de alimentos no mundo associado ao capitalismo. Informações sobre o ciclo de ouro do capitalismo, incluindo a Revolução Verde e de como ela influenciou aspectos da produção agrícola dependente de insumos industriais, erosão genética das sementes, aumento de concentração fundiária e a fragilização da soberania alimentar dos países periféricos foram debatidas na atividade.
De acordo com Lima, a dependência da produção alimentar é um fenômeno que assola países periféricos. O professor pontuou que há uma relação incoerente em alguns países com exportação de muitos alimentos e a necessidade de importar outros, inclusive em países com destaque na agricultura. “A fome não é uma invenção do sistema capitalista, mas se potencializou nesse modo de produção. A própria FAO reconhece que há um crescimento da fome no mundo e tem levado a Organização a redefinir estratégias para acabar com ela”, comentou o professor.
O que chama a atenção do docente é a percepção de que a produção de alimentos não é para acabar com a fome e sim para sustentar uma economia centralizada. Essa acumulação de capital traz consequências como o agravamento da fome, a fragilidade da soberania alimentar e potencializa a expropriação primária. “É nítido isso quando enxergamos o crescimento de commodities que centralizam e agregam valor na distribuição de alimentos no mundo”, afirmou Lima.
Essa discussão faz parte de um dos trabalhos que a Instituição realiza para contribuir com a segurança alimentar na região. De acordo com o professor Jânio Roberto dos Santos, coordenador do evento, além da pesquisa com relação à temática, trabalhos de extensão em comunidades com vulnerabilidade econômica também são realizados pela Instituição.
“Uma discussão como essa é de extrema importância para uma universidade pública com projetos de extensão no campo e que atende diversas comunidades rurais. O que foi dito aqui foi bastante esclarecedor sobre o que está acontecendo no mundo”, defendeu o professor.