Todos os dias, às 3h30 da manhã, Hélia dos Santos Silva sai de sua casa, no povoado do Capinal, para dar início à sua jornada. A rotina de Hélia, que inclui dois empregos, só termina depois das 22 horas, quando terminam as aulas da escola onde ela estuda.
“Eu chego às 5 horas da tarde, tomo banho, me arrumo e vou para escola”, contou Hélia. Segundo ela, a rotina é exaustiva, mas também é muito gratificante, pois é a forma que encontrou para voltar a estudar depois de 15 anos. “É muito corrido, se você não tiver foco naquilo que você quer, você não consegue. Mas eu acredito que estudar é fundamental para ter um futuro melhor, por isso a minha dedicação”, completou Hélia.
A história dela é parecida com as histórias de tantos outros, como Andréa, Diva, Gizele, Elenice, Francisco, Selma e Ivanildo, jovens, adultos e idosos, entre 20 e 70 anos, que retornaram à sala de aula para darem continuidade ao processo de ensino e aprendizagem. Todos eles são protagonistas da exposição fotográfica intitulada “Negritudes, resistências e lutas”. A iniciativa é resultado do projeto Foto(grafias): narrativas de vida-formação de pessoas negras da Educação de Jovens e Adultos (EJA), realizado por alunos do 5º e 6º semestres de Pedagogia do campus de Vitória da Conquista.
O projeto – “Nós começamos em 2017 e consideramos muito pertinente e oportuno continuar realizando esse projeto, especialmente, porque envolvemos estudantes de escolas públicas da Educação de Jovens e Adultos. Esses estudantes, em geral, foram excluídos de vários processos de escolarização e voltaram à escola para continuarem os seus percursos de estudos”, explicou o professor José Jackson Reis, responsável pela atividade.
Segundo o docente, a fotografia foi adotada como linguagem central de todo o projeto. “Nós fotografamos o cotidiano deles, onde fazem uso social da leitura e da escrita, pois, em geral, são estudantes que estão no Ensino Fundamental e que estão nos anos iniciais ou continuando o seu processo de alfabetização inicial”, contou o professor. No caso de Hélia, por exemplo, as fotos mostram ela indo ao trabalho, pegando ônibus, andando pelo povoado onde mora, além de momentos de estudo.
Para isso, durante sete meses, os discentes da Universidade acompanharam os oito alunos do EJA participantes do projeto, dentro e fora da sala de aula. “Isso é formativo para os estudantes da graduação. Para sentir esse movimento de ir e voltar, vendo os desafios cotidianos. […] Isso é muito potencializador na formação dos graduandos porque eles não ficam só na dimensão do que é ensinar”, complementou José Jackson.
Vida-formação de pessoas negras – Neste ano, o projeto abordou uma temática específica no campo das relações étnicas raciais. Dessa forma, a ação buscou capturar os sentidos sobre a dimensão étnico-racial no cotidiano das práticas curriculares. Essas percepções foram apresentadas, por meio de diversas linguagens artísticas, durante o Seminário Foto(grafias) que aconteceu na noite dessa quarta, 27, no Teatro Glauber Rocha. Além dos oitos participantes do projeto, que estudam na Escola Municipal Maria Leal e na Escola Municipal Antônia Cavalcanti e Silva, o evento contou com a presença de familiares e colegas das unidades escolares.
Na oportunidade, também foram lançados livros impressos e em audiodescrição, nos quais foram contadas as histórias dos estudantes participantes. O Seminário também marcou a abertura da exposição fotográfica “Negritudes, resistências e lutas”. O secretário municipal de Educação de Vitória da Conquista, Esmeraldino Correia, visitou a exposição e, no momento, reforçou a contribuição da Universidade para a Educação Básica. “Esse trabalho é fundamental para incentivar que jovens e adultos se alfabetizem. Essa visibilidade que a fotografia traz, contando a história desses estudantes, é muito bonito e, também, muito importante porque valoriza a jornada de cada um deles”, destacou.
A exposição ficará aberta à visitação até esta quinta, 29, no foyer do Teatro Glauber Rocha.