Quando fatos não podem ser esquecidos na memória de um povo, a Universidade também cumpre um papel essencial na formação. Assim, o Programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade realizou nesta terça, 2, um encontro apresentando dois painéis sobre o período da Ditadura Militar no Brasil.
Sob um viés de lutas femininas durante o Regime, as palestras dos discentes do curso de Doutorado do Programa buscaram revelar, em suas especificidades, aspectos memoráveis sobre mulheres que sofreram durante a década de 1960 e 1970 – desde suas superações até as histórias daquelas que morreram durante o processo.
Entre essas mulheres, estava a militante Dinaelza Coqueiro, cujo corpo nunca foi encontrado. Nascida em Vitória da Conquista, a estudante de Geografia participou da Guerrilha do Araguaia, nos anos de 1970, e desapareceu junto ao seu marido e outros companheiros de luta.
A trajetória de Dinaelza se tornou pesquisa na Uesb, com o título “O corpo insepulto: o caso de Dinaelza Coqueiro”. A proposta é dar uma dimensão política e humana para o não sepultamento do corpo da militante. De acordo com a pesquisadora responsável pela investigação científica, Gilneide Padre, é importante ressaltar a memória de muitos fatos ocorridos no país. “No Brasil, a gente tem políticas de esquecimento e, então, não temos memórias. Por isso, precisamos ter conhecimento dos fatos para reforçá-los”, pontuou.
Nessa corrente, a discussão sobre “Mulheres, dor e sofrimentos: mortes, prisões e torturas”, proferida por Hugo Píres, apresentou um mapeamento dos relatos de cinco mulheres, realizados para a Comissão Nacional da Verdade. De acordo com o palestrante, além de reforçar, no seu trabalho, o modo como elas superaram, construindo um novo modo de viver, ele também pôde identificar que, naquele momento, a principal luta da mulher nesse ambiente era em defesa da atuação do Estado.
“Os nossos jovens não têm ideia do que foi esse processo. É difícil até para a gente que estuda entrar naquele momento em que elas viveram. Não sabem o que é você ser abordado em casa, na rua, tanto homem quanto mulher, ser recolhido(a) de uma forma agressiva, sem respeitar seus direitos de humanidade”, comentou Píres.
De acordo com a organizadora do evento, a professora Lívia Magalhães, esse assunto deve ser debatido frequentemente pela severidade do período. “O ponto essencial é que não podemos esquecer que ocorreu Ditadura Militar, que iniciou em 1964, resultando em mortes, tortura. Muitos corpos ainda estão desaparecidos. Afirmar que não houve ditadura é desrespeitar a própria democracia, o próprio povo, a sociedade, as famílias dos mortos e dos desaparecidos”, defendeu a professora.