Em 2014, Patrícia Cara, professora da Uesb, do campus de Itapetinga, ouviu, enquanto participava de um Congresso em Brasília, que estava sendo uma péssima mãe. Na ocasião, seu filho tinha ficado aos cuidados da avó para que Patrícia pudesse participar do evento como representante da Associação dos Docentes (Adusb), seção sindical à qual pertence e foi, recentemente, eleita como secretária regional. Na Adusb, a docente exerce sua militância política, especialmente na luta pelas mulheres trabalhadoras – faz parte do Grupo de Trabalho que trata sobre questões étnicorraciais, gênero e diversidade sexual.
Embora reconheça a sobrecarga de atividades que o ativismo político gera em sua vida, Patrícia não se imagina mais fora dessa luta: “acumulo cargos: sou mãe, filha, esposa, professora, pesquisadora, orientadora e também vou à luta”. Ela conta que a rede de apoio – família, amigos e espaços adequados para crianças – é fundamental para que consiga exercer suas atividades, especialmente quando não é possível levar seu filho para atos e movimentos de que participa. “Para mim, a militância é um combustível; infelizmente, ainda ouço que as mulheres ficam endurecidas após ingressar no ativismo”, relata. Para ela, resistir e romper esses preconceitos e estereótipos faz parte das atividades da luta feminista, mas, também, do movimento docente da qual faz parte.
Dessa forma, Patrícia salienta a importância da paridade de gênero – conquista recente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), que também orienta às demais decisões das seções sindicais – que determina em 50%, ao menos, a presença de mulheres nas composições das diretorias. “Esse é um instrumento valioso para garantir e estimular a presença das mulheres nos movimentos, mas, também, para viabilizar meios das mulheres ocuparem esses lugares”, afirma. Na decisão, também está incluída a garantia de assegurar a presença dos filhos, reservando espaços adequados para eles – como as creches.
Às que vieram antes de nós – Para celebrar as vitórias diárias das lutas feministas, foi preciso que mulheres trabalhadoras estivessem no front, exigindo a ampliação dos Direitos Humanos, com particularidades históricas da pauta feminista. No início e em meados do século 20, em diversas partes do mundo, movimentos de mulheres reivindicaram seus direitos. Em 1911, em Nova York, 146 trabalhadores – dentre eles, 129 mulheres e 17 homens – morreram em decorrência de um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist Company. As condições de trabalho, especialmente das mulheres, eram degradantes: elas recebiam um terço a menos que os homens, jornadas extenuantes e sem condições de segurança.
Após o incêndio, os donos da fábrica foram julgados – com um júri composto apenas por homens – e inocentados. Naquele período, mulheres de várias partes do país já deflagravam greves contra condições intoleráveis de trabalho. A história do Dia Internacional das Mulheres, 8 de março, atravessa o movimento das mulheres operárias norte-americanas e ainda se constrói e reconstrói como momento de luta. Somente em 1975, a ONU reconheceu a data como símbolo da luta das mulheres por direitos políticos e sociais.
Flores como tentativa de apagamento – Relembrar os caminhos de luta é também um modo de resistir, entender a história e evitar reproduções equivocadas de discursos de menosprezo à mulher. Por isso, os movimentos feministas lutam para que as flores – comumente distribuídas na data – não apaguem o sentido histórico da data. “A pauta do feminismo está avançando lentamente, mas está muito aquém do que esperamos. Ainda temos alto índice de violência contras as mulheres, baixa participação feminina no Congresso Nacional, taxa de desemprego duas vezes maior que a dos homens, feminicídio etc”, ressalta Patrícia. Nesse sentido, o 8 de março é um marco político contra as estruturas materiais e simbólicas – manifestadas pelo patriarcado e machismo – que insistem em seguir acesas.