Bastou entrar em um laboratório químico, durante o ensino médio, para os olhos de Fabiany Cruz brilharem e surgir a certeza de que o seu futuro seria na área Química. Até então, ela nunca tinha ouvido falar da profissão, e não imaginava que o desenvolvimento científico estava atrelado à essa ciência, só sabia que existia a matéria. Atualmente, Fabiany faz os olhos de outras mulheres brilharem pela Química, isso porque é professora e pesquisadora da área no Departamento de Ciências Exatas e Naturais da Uesb (DCEN), campus de Itapetinga.
A pesquisadora conta que o percurso foi longo e cheio de desafios até chegar ao lugar que ocupa hoje, principalmente pelo fato da mulher ser, cultural e socialmente, muito mais cobrada em relação às questões familiares que os homens, o que configura a chamada jornada tripla. “No primeiro ano, que eu entrei no curso de Química já comecei a fazer Iniciação Científica, e me apaixonei. Terminei meu curso, mas não foi fácil, porque as mulheres estão sempre envoltas em questões pessoais e familiares, mas eu sabia que estava no lugar certo”, afirma Fabiany, que continuou suas pesquisas na área, no mestrado e doutorado.
De acordo com a Gerência de Pesquisa e Inovação da Uesb, dos projetos de pesquisa cadastrados, 48,14% são coordenados por mulheres. Além de Fabiany, está nesta lista a professora e pesquisadora Cláudia Ribeiro, do curso de Sistemas da Informação, campus de Jequié. Há 26 anos, a pesquisadora ingressou na Uesb ainda como técnica, pouco tempo depois, carregando o desejo de formar outras mulheres em uma área de predominância masculina, se tornou professora. “Para nós, mulheres, atuar na área de Ciências da Computação é um desafio muito grande, por ser uma área completamente dominada por homens. Há um preconceito, nós convivemos com isso”, revela Cláudia.
A atuação da professora vai além das pesquisas. Foi ela a primeira coordenadora da área de Informática do campus de Jequié, e mais: “ implantei a Coordenação Setorial de Informática na década de 1990, e foi muito gratificante perceber que, apesar de todas as barreiras, pude mostrar que é um universo que também pode ter atuação de nós mulheres”, destaca. Agora, Cláudia é coordenadora do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Software da Uesb (CPDS), local onde são desenvolvidos diversos projetos e atividades e, segundo a professora, a maior parte dos discentes de Iniciação Científica do Centro, são mulheres.
Mudança de cenário – Na Uesb, as mulheres fazem pesquisas das mais diversas áreas, como a professora Núbia Regina Moreira, que é socióloga e pesquisadora do campo da educação e da produção cultural de mulheres negras. Para ela, ser mulher e negra foi um obstáculo a mais em sua constituição como pesquisadora reconhecida no mundo acadêmico. “Nós vivemos em uma sociedade totalmente patriarcal, machista, sexista, racista… E isso, infelizmente, está muito presente na universidade, principalmente na desautorização das vozes das mulheres”, lamenta a pesquisadora.
Outra questão levantada pela socióloga, diz respeito as credenciais que “impedem” as mulheres de seguirem uma carreira como pesquisadoras, como a maternidade. “Estar no campo de pesquisa é estar abdicando, às vezes, da maternidade, você é um devotado para a pesquisa. E isso não tem nenhum problema quando os homens fazem, só quando a mulher faz. Fora isso, a maioria dos postos de poder da pesquisa são ocupados pelos homens”, reforça professora Núbia.
Na tentativa de mudar esse cenário, a socióloga conta que orienta, em grande maioria, mulheres, como forma de estimulá-las a despertarem o olhar para a pesquisa. “Eu falo para as minhas orientandas que a gente tem que barrar essa autoexclusão que nos foi colocada na socialização”, completa a pesquisadora.
Confira mais o que pensam essas pesquisadoras: