A comunicação humana é um processo que envolve diversos elementos: voz, cordas vocais e até mesmo os olhos. Provavelmente “olhos” não faz parte do grupo de palavras óbvias que vem à sua mente quando se pensa no processo envolvido na comunicação. Porém, os olhos podem dizer muito.
Pensando nisso, a pesquisa “Uma investigação acerca do comportamento oculomotor no processamento do vozeamento de segmentos fricativos e oclusivos por falantes com a Trissomia do 21″, buscou entender como pessoas com Síndrome de Down processam a fala. O trabalho é feito usando o rastreamento ocular para analisar os caminhos cognitivos realizados para a comunicação.
A pesquisa de doutorado de Priscila de Jesus Ribeiro, aluna do Programa de Pós-Graduação em Linguística da Uesb, orientada pela professora Marian Oliveira em uma parceria com a Université de Lille, na França, busca compreender melhor os desafios enfrentados por essas pessoas. Além dos conhecimentos levantados por meio da investigação, a pesquisa ainda se propõe a desenvolver um aplicativo para o auxílio na atenuação dessas dificuldades.
Por meio de dados úteis para a diminuição dessas barreiras, a pesquisadora aponta um caminho de inclusão: “Com apoio adequado, é possível desenvolver suas habilidades comunicativas, favorecendo a inclusão escolar, social e profissional”. Dentre os principais obstáculos enfrentados estão a dificuldade na pronúncia de certos sons; lentidão ou pausas maiores; menor controle dos movimentos da boca e da língua; e dificuldade para organizar as ideias na fala.
A pesquisa visa a criação de um aplicativo capaz de oferecer atividades e exercícios personalizados para pessoas com Down.
O que os olhos falam – Mas, como os movimentos dos olhos estão ligados aos processos da comunicação? A pesquisa explica que o movimento ocular reflete os processos cognitivos envolvidos na construção da linguagem. No contexto dos indivíduos com Síndrome de Down, a pesquisa busca compreender como esses movimentos podem refletir as dificuldades na articulação das palavras, coletando dados importantes sobre a relação entre a atenção, a percepção e a produção da fala.
Por meio do rastreamento ocular, a pesquisa analisa como as pessoas percebem e processam informações visuais e auditivas. A abordagem inovadora permite identificar com mais precisão quais dificuldades específicas os falantes com Down enfrentam.
Analisando a duração da fixação ocular, que se refere ao tempo que uma pessoa mantém o olhar fixo em um ponto específico, é possível compreender como cérebro processa informações. No caso dos indivíduos da pesquisa, entender esse aspecto pode ajudar a criar materiais pedagógicos e terapêuticos mais acessíveis e eficazes, contribuindo para uma comunicação mais clara e uma maior autonomia. “Como pesquisadora, meu trabalho busca compreender essas particularidades e, principalmente, desenvolver estratégias que as ajudem a se comunicarem melhor, ampliando suas oportunidades de interação e inclusão social”, destaca Priscila.
Com uma base de dados criada a partir do rastreamento ocular, materiais educativos personalizados e mais efetivos serão desenvolvidos.
Uma dessas estratégias envolve a criação de um aplicativo capaz de oferecer atividades e exercícios personalizados para estimular a percepção e produção da fala de pessoas com Down. Com o aplicativo, profissionais da fonoaudiologia terão suporte na prática clínica, além de educadores e familiares: “A ferramenta pode contribuir para melhorar a comunicação e fortalecer a autonomia dessas pessoas”, explica a pesquisadora.
Com uma base de dados sólida e uma ferramenta educativa, a pesquisa impacta diretamente na qualidade de vida de pessoas com Down. ”Além de ajudar profissionais da saúde e da educação a desenvolver estratégias mais eficazes para estimular a comunicação dessas pessoas, essa contribuição é essencial para ampliar as oportunidades de inclusão e participação social”, ressalta Priscila.