Pioneira nas pesquisas sobre a radioatividade, Marie Curie foi a primeira mulher a ganhar um Nobel, em 1903
Durante o Ensino Médio, Camila Messias leu um livro de Carl Sagan – astrofísico estadunidense –, que abordava também a história de uma física e, logo pensou: “quero ser como ela”. Atualmente, Camila é docente do curso de Física da Uesb, pós-doutora em Física pela Universidade de Brasília, pesquisadora e mãe, não necessariamente nessa ordem.
Embora Camila reconheça uma diminuição nas atribuições universitárias pós maternidade, ela permanece à frente de projetos de pesquisa. Um deles dialoga com a região. A docente propôs pesquisas que tivessem aplicabilidade em Itapetinga e redondezas. Desse modo, foi iniciada a análise de herbicidas – muito utilizado para matar erva daninhas. “Esses produtos são tóxicos. Quando chove, eles escoam para os rios e os contaminam”, afirma Camila. A interface com a Física, segundo ela, acontece na análise e avaliação das moléculas desses herbicidas e, posteriormente, haverá uma avaliação dos lençóis freáticos da região.
Camila Messias com seu filho (Foto: Arquivo Pessoal)
Na luta pela quebra de estereótipos – Camila foi a primeira mulher contratada para o curso de Física na Universidade, iniciado em 2012. Mesmo assim, durante a cerimônia de abertura, ouviu de um colega que os discentes deveriam “suar as cuecas”. Ao se manifestar contrária a afirmação, o professor fez a retificação para “suar as camisas”. Situações como essa, infelizmente, ainda são comuns, especialmente na área de Física, dominada pelos homens.
“Eu era desafiada constantemente. Duvidavam da minha capacidade intelectual”, relata. Segundo ela, além de enfrentar o machismo, quando esteve em Brasília para realizar o mestrado e doutorado, também enfrentou a hesitação por ter vindo do interior da Bahia e de uma universidade estadual, a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc).
Uma levanta a outra –Camila se inspirou na física do livro para se tornar uma física também. Hoje, ela inspira estudantes a seguirem carreira na área. E, assim, o ciclo contínuo de estímulos com uma mulher levantando a outra vai se formando. Com Milena Duarte, docente do curso de Química da Uesb, a rede de apoio familiar permite que ela se sinta confortável em desenvolver suas atividades na Universidade, mesmo transitando semanalmente entre Itabuna – onde mora sua família – e Itapetinga.
Milena Duarte coordena o Centro de Estudos e Análises Cromatográfica da Uesb
A docente coordena um projeto de pesquisa que tem a ozonioterapia como foco. A aproximação dela com a técnica aconteceu após perceber que uma ferida de seu pai – diabético – não curava há mais de 20 anos. Ela então começou a pesquisar possíveis soluções complementares para feridas crônicas. Nesse período, descobriu o ozônio: “eu trabalho com plantas e extraio o óleo para, posteriormente, ozonizá-lo”, conta.
Na ferida do pai, Milena aplicou o produto em três sessões, o suficiente para cicatrizar definitivamente a ferida. Como já tinha adquirido a máquina, ela aproveitou para estudar os efeitos dos óleos ozonizados em uso tópico. Hoje, seu projeto de pesquisa, realizado no Centro de Estudos e Análises Cromatográfica (Ceacron), o qual coordena, envolve cinco discentes do curso de Química e já está testando novas possibilidades de aplicabilidade do ozônio, como as pomadas.
Embora a ozonioterapia seja considerada pela Anvisa uma terapia complementar – inclusive, o SUS regularizou seu uso desde 2017 como tratamento medicinal coadjuvante -, a docente assegura que, em sua experiência, os casos de melhora em feridas, cicatrizações, dermatites e psoríase chega a 100%.
Hoje, para que Milena tenha disponibilidade de experimentar – com análises, estudos, leituras, testes -, suas trajetórias profissional e pessoal a forjaram na dedicação à pesquisa. Desde a pós-graduação, ela participa de projetos de pesquisa sobre produtos naturais: “a minha imersão acadêmica, em Itapetinga, é fundamental para que eu consiga me dedicar integralmente à pesquisa. Inclusive, superando a distância familiar”.