Em setembro de 2020, a realidade do ensino nos três campi da Uesb mudaria. Diante da pandemia e do distanciamento social, o Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) aprovou a adoção temporária do Ensino Remoto Emergencial (ERE) nos cursos de graduação e pós-graduação.
Além disso, o medo e as inseguranças se misturaram com os projetos pessoais e sonhos profissionais de milhares de estudantes. Foi assim que muitos enfrentaram a nova vida acadêmica, para a conclusão do semestre letivo e continuidade das suas formações. Para alguns deles, o desafio chegou marcado pelo momento mais especial da trajetória universitária: as conclusões de seus cursos.
Roberto Claudio Mendes, por exemplo, estava no último semestre do curso de Direito (2020.1), em Vitória da Conquista, e realizava a pesquisa para escrever seu trabalho de conclusão de curso (TCC) sobre “Direito, Discurso e Poder: A linguagem jurídica como obstáculo ao acesso à justiça”. O estudante, que participou das discussões em torno do ERE como membro do Diretório Central dos Estudantes (DCE), finalizou sua trajetória e tornou-se bacharel em Direito, em uma cerimônia virtual. “Para nós, do movimento estudantil, a vivência na pandemia foi muito desgastante, um momento de muito trabalho e muitas reuniões on-line feitas pela Universidade”, lembra.
O desafio de escrever um TCC em meio a tudo isso foi algo que exigiu uma dedicação ainda maior, como conta Roberto. “Na minha turma, recebemos orientação do TCC no início da pandemia e a escrita acadêmica ainda é uma dificuldade para nós do curso de Direito. Foi complicado porque somaram-se as incertezas, as questões pessoais, como o medo da contaminação, as perdas de vidas. A questão psicológica também foi bastante abalada”, destaca.
Segundo ele, o que mais afetou todo esse processo, especialmente, na reta final da graduação, foi o distanciamento social. “Com relação ao ensino, o maior impacto na pandemia para nós, é a falta, de fato, da Universidade no aspecto presencial. A gente teve que se acostumar com um “novo normal” universitário, que é uma vida sem ver os colegas, uma vida em que as atividades são muito mais exigentes conosco”, conta.
Ensino remoto e pesquisas na pós-graduação – Izabella Batista Muniz formou em Engenharia de Alimentos e, no início da pandemia, era uma das alunas do Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos. Quando começaram as medidas restritivas em Itapetinga, Izabella estava entrando no segundo ano do Mestrado, período em que precisava fazer experimentos em laboratório, mas não foi possível. “Foi um amontoado de emoções, incertezas, insegurança. A princípio, não foi tão ruim, porque estava me sentindo cansada e precisava parar um pouco”, revela a pesquisadora.
Ao lembrar do período, ela destaca as mudanças de rotina que enfrentou nessa etapa da vida acadêmica. “Esse processo foi desgastante porque, no ensino remoto, a gente não trabalha só o horário comercial, temos que estar disponível todo o tempo, fora nossa privacidade, ter que dividir obrigações, cuidar da família e dar conta da Universidade. No começo, foi muito difícil administrar”, explica.
Para chegar à conclusão do Mestrado em fevereiro deste ano, no pico mais alto da pandemia, Isabella pôde contar com a sua orientadora, que, segundo ela, foi muito presente na medida do possível. “Eram mensagens pelo WhatsApp quase o tempo todo e reuniões semanais via Google Meet”, recorda. Foi também por meio da plataforma Google Meet, que ela passou antes pela Qualificação – etapa que antecede a defesa da dissertação, trabalho final exigido no curso de Mestrado.
O processo de finalização da pesquisa e conclusão do curso não foi simples. Izabella enfrentou desafios, se adaptou, defendeu sua dissertação para uma banca examinadora on-line e, no fim, ainda foi aprovada para cursar Doutorado no mesmo Programa. Tudo isso durante o período pandêmico. Em meio à correria, Izabella lembra que, enquanto se preparava para defender sua dissertação, já precisava agilizar documentos, matrícula e trâmites burocráticos da próxima etapa acadêmica.
Para ingressar no Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Alimentos, Izabella participou do processo seletivo, também, via Google Meet. Atualmente, como doutoranda, ela comemora a possibilidade de cursar disciplinas em outras universidades. “Uma coisa que dá para extrair dessa situação de pandemia, é em relação ao intercâmbio que é possível fazer virtualmente. Neste ano, os programas de pós-graduação do Brasil e do exterior se juntaram e isso possibilitou cursar disciplinas em outros programas”, acrescenta a doutoranda.
Apesar dos desafios e mudanças abruptas, Roberto e Izabella contam que existem os lados positivo e negativo do ensino remoto. Ambos destacam algumas ferramentas de comunicação possibilitadas pelas tecnologias, como WhatsApp e Google Meet, muito usadas por eles no processo de ensino-aprendizagem. Eles reforçam ainda que aprenderam muito e que valeu a pena superar os desafios trazidos por essas situações adversas. Os dois chegaram a concluir seus estudos e vivenciaram as solenidades da Uesb, também de forma remota.
As solenidades e celebrações de forma remota – Durante o Ensino Remoto Emergencial, as solenidades e comemorações também se reinventaram. Antes presenciais, momentos inesquecíveis para alunos e professores agora foram adaptados para acontecer de forma remota e, assim, realizar sonhos.
Na forma presencial, as formaturas tinham maior duração e mais calor humano. Geralmente, começava na Universidade e terminava em clubes com festas. As cerimônias tradicionais iniciavam com a entrada dos formandos em fila indiana, abertura de cortinas e existia a mesa de honra com autoridades, reitor, coordenadores de colegiados, patrono ou paraninfo, professor homenageado, hino nacional, leitura do juramento e, por fim, a tão sonhada concessão de grau ao novo bacharel ou licenciado. Os formandos recebiam a faixa, saudações, faziam fotos com familiares e convidados. As emoções se evidenciavam no momento das homenagens e na afixação das placas com nomes da turma nas dependências do campus.
A mudança nas solenidades, ritos e protocolos de formaturas institucionais aconteceu com a Resolução da Uesb, publicada em 6 de março de 2021, que autorizou as colações de grau virtuais. A primeira cerimônia nesse novo formato foi a do curso de licenciatura em História, campus de Vitória da Conquista, no dia 15 de março de 2021. Atualmente, os três campi da Universidade seguem realizando essas solenidades on-line.
“Hoje, mudamos um pouquinho o protocolo. Virtualmente, temos a abertura da solenidade com o reitor, o momento do juramento, a concessão de grau, as homenagens aos professores (opcional), a oratória de um concluinte, os discursos do paraninfo ou patrono (opcional), a fala do coordenador do Colegiado do curso e a fala do reitor que encerra a solenidade”, explica Jamile Santos, responsável pelo Cerimonial, no campus de Jequié.
As solenidades acontecem de duas maneiras: pública e de gabinete. A pública é realizada pela plataforma Google Meet e transmitida pelo canal UesbOficial no YouTube. Já a solenidade de Gabinete é simplificada, também acontece pelo Google Meet, porém é mais rápida e restrita, com a participação apenas dos formandos e um reduzido número de pessoas.
Nas solenidades de colação de grau, os formandos podem ensaiar os eventos previamente, pelo Google Meet. Aquelas que são transmitidas pelo YouTube ficam gravadas na plataforma, com acesso livre para serem vistas e relembradas por qualquer pessoa do Brasil ou do mundo.
Você pode conferir o bate-papo completo com os três convidados no último episódio do podcast “Com a Palavra – As vivências universitárias durante a pandemia”.