Em Tempo, O Pasquim, Opinião e Tribuna da Luta Operária foram alguns dos principais jornais da imprensa alternativa no período da Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil. Mesmo diante da censura, esses jornais foram determinantes para a formação política de muitos jovens que vivenciaram essa época, entre eles, o professor do Departamento de História (DH) do campus de Vitória da Conquista, Carlos Alberto Pereira (Cacá). Durante a palestra “Ditadura Militar, imprensa alternativa e formação política”, realizada na última sexta-feira, 23, pelo Laboratório de História Social do Trabalho (Lhist), vinculado ao DH, o docente falou sobre essa experiência.
A palestra abriu ao público a exposição do acervo dos mais de 3 mil jornais da imprensa alternativa do período ditatorial, fruto da doação de professores, que estão sob os cuidados do Lhist. Segundo uma das coordenadoras do evento, a professora do DH, Rita de Cássia Mendes, é importante discutir o papel desses veículos num contexto de Ditadura, “como veículos de resistência ao autoritarismo, à censura, à repressão, e como esses veículos foram importantes para a formação dos quadros políticos que se posicionaram contra a Ditadura, e que hoje estão na luta pela manutenção da Democracia no Brasil”.
Nesse contexto, a universidade atua como espaço encorajador de reflexão, como ressalta a docente. “Discutir temas ainda que relativos ao que se passou há 50 anos, mas que são pungentes e precisam ser refletidos na atualidade, é o papel da universidade. A universidade está aqui para discutir o que precisa ser discutido sobre o passado, presente e futuro”, destacou.
Notícias de outros países, principalmente acerca de revoluções, eram vetadas na imprensa tradicional. As restrições se intensificaram com a publicação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), que regulamentou a censura. Assim, era por meio do Em Tempo, que o professor Cacá se informava sobre o que acontecia no exterior.
“Minha experiência com o Em Tempo é do início da juventude, 18, 19 anos. Naquele jornal, nós dávamos conta de notícias vindas de fora, como a Revolução Nicaraguense e a libertação da Palestina. Ficávamos antenados e discutíamos questões teóricas. Esse jornal influenciou sobremaneira a minha formação política, e são marcas que eu trago”, contou.
Para o professor, o debate reforçou a importância da liberdade na construção de caminhos mais harmoniosos: “essa discussão deu conta de uma reflexão crítica acerca da necessidade de nós cultuarmos uma outra perspectiva, que não aquelas centradas na repressão e no autoritarismo, a de que só é possível construir caminhos mais harmoniosos à medida que a gente desfruta daquilo que é mais sagrado, que é a liberdade”.
Sobre o Lhist- O núcleo principal do acervo do Lhist é composto ainda por cerca de 200 mil documentos produzidos pela Junta de Conciliação e Julgamento de Vitória da Conquista, e pelas Varas do Trabalho de Vitória da Conquista e Itapetinga, de 1963 a 2011. O segundo grupo documental do acervo é composto pelo arquivo digital: Movimento Social em Retrato, que dispõe de 7 mil cópias de documentos escritos e fotos, produzidos pelo Sindicato dos Trabalhadores da Região Sudoeste na segunda metade do século 20.
O acervo é aberto ao público e pode ser utilizado como fonte de pesquisas por toda a comunidade.