Na construção da relação médico e paciente, é imprescindível a confiança mútua e a sensibilidade de olhar além e considerar o ser humano, levando em conta sua história e suas dores. Em busca de entender essa realidade nos Programas de Saúde da Família (PSF’s) em Itapetinga, a egressa do bacharelado em Ciências Biológicas, Danielle Oliveira, produziu o trabalho de conclusão de curso intitulado “Saúde Pública: contexto e a relação médico paciente nos PSF’s no município de Itapetinga-BA”.
“Sempre ouvi muitos relatos de pessoas que buscaram ajuda dos profissionais médicos em PSF’s do município e muitos nem sequer deram o mínimo de atenção, não fizeram uma anamnese [perguntas feitas pelo profissional de saúde] para saber o porquê de buscar ajuda”, conta a pesquisadora. Então, a partir desses relatos, Oliveira pensou em investigar as causas para que a relação médico-paciente estivesse sendo modificada no ponto de vista do usuário do sistema.
De acordo com a bióloga, não faz muito tempo em que existia uma relação muito forte entre médico e paciente, em que o médico da família estava sempre presente. No entanto, em algum momento, essa interação começou a esfriar. “Com isso me veio a pergunta: será que a culpa é apenas do médico em não criar um ambiente propício para que essa relação seja estabelecida de maneira eficaz? Ou do paciente que já chega ao atendimento em saúde com pressa, medo, inseguro e não consegue explanar seus sentimentos, dúvidas e incertas?”, questionou Oliveira.
Em busca de respostas – A então estudante aplicou questionários para usuários nas unidades de saúde e, a partir dos dados coletados, foi observado que, para os pacientes, a relação com o médico está sendo estabelecida de maneira eficaz e confiável. Segundo a responsável pelo estudo, os dados mostram que existe diálogo, comunicação olho a olho e o entendimento do problema, por parte do paciente. Dessa forma, o modo como o médico aborda o assunto repercute no resultado da consulta e na adesão do paciente ao tratamento.
Além disso, a empatia e a anamnese durante a consulta também foram analisadas de forma positiva. A pesquisa identificou que o paciente consegue, na maioria das vezes, explanar seus problemas, se sentir seguro e disposto a informar com mais desenvoltura o que o levou a buscar ajuda, sendo de fundamental importância esse resultado positivo, pois faz toda a diferença no contexto que abrange a saúde.
Resultados da pesquisa – “Por outro lado, por mais que os resultados positivos da pesquisa tenham sobressaído, é importante destacar a diferença do médico do serviço particular para o do serviço público, onde usuários disseram sentir muita diferença”, destaca a pesquisadora. Para ela, é necessário que esse aspecto seja levado em consideração, para que haja uma melhora no serviço público. “O profissional médico precisa dispor do tempo necessário para atender o seu paciente, entender o seu problema e tentar ajudá-lo, trazendo assim resultados positivos, tanto em curto como em longo prazo”, completa.
Para o professor Murilo Scaldaferri, orientador do TCC, esse tipo de pesquisa aproxima a Universidade da administração pública e, consequentemente, da sociedade. “Desde o início, a intenção foi de levantar informações que pudessem ajudar a melhorar um serviço público tão importante para a população”, pontua. O professor lembra que é membro do Conselho Municipal de Saúde e, nesse sentido, busca conhecer melhor as políticas públicas do município. “Junto com os alunos e a Universidade, estamos unindo forças para ajudar, da melhor maneira possível, a sociedade ao nosso redor, sobretudo na intersetorialidade entre Educação e Saúde, que é o foco principal das minhas pesquisas”, salienta Scaldaferri.
O professor também ressalta que, quando dados como os que foram levantados durante a pesquisa chegam ao conhecimento da gestão municipal, estão sendo compartilhadas informações relevantes e que podem influenciar na tomada de decisões para melhorias do serviço. “Os pontos positivos devem ser destacados e levados como exemplos para todas as unidades de saúde do município, assim como as falhas que devem servir de alerta para o planejamento e readequações necessárias no atendimento. A sociedade é quem mais ganha com isso”, conclui o orientador.