A radiografia, também chamada de Raios-X, é um exame por imagem comumente prescrito por médicos e dentistas, principalmente, os ortodontistas. É rápido, barato, indolor para o paciente e permite a visualização de diversas partes do corpo, a exemplo do tórax, seios da face e panorâmica dentária. Nesse tipo de exame, é utilizada radiação ionizante, que expõe o paciente a doses relativamente baixas de radiação, consideradas seguras. No entanto, em uma pesquisa realizada pela Uesb, em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), foi possível identificar danos causados ao DNA por Raios-X de uso em radiodiagnóstico médico em baixas doses.
De acordo com o professor Luis Nieto González, líder do grupo de pesquisa, vinculado ao Departamento de Ciências Exatas e Naturais (DCEN), campus de Itapetinga, o DNA exposto a uma radiação ionizante pode causar quebras nas cadeias de nucleotídeos. A consequência disso é a alteração da estrutura e de funções do material genético, o que pode levar ao desenvolvimento de um câncer, por exemplo. Para estudar esse efeito em nível molecular, o grupo de pesquisa utilizou a técnica de Microscopia de Força Atômica (AFM). Essa técnica permite a visualização direta das moléculas de DNA sobre uma superfície, além da medição das propriedades morfológicas e eletroquímicas desta.
Como o estudo aconteceu – Dessa forma, foi utilizada no estudo uma amostra de DNA da glândula Thymus (Timo) de bezerros. Essa glândula é comum a todos os vertebrados com mandíbula e possui a função principal de maturação dos linfócitos T, que fazem parte do sistema de defesa do corpo. “Nós extraímos da célula o DNA e o levamos para o Microscópio de Força Atômica para ver o interior do DNA, sem dano nenhum”, explica o professor.
Após a amostra de DNA ser medida e observada, ela foi submetida a radiação com o Raios-X. Foram utilizados, segundo o pesquisador, 80 disparos, que correspondem a 80 placas radiográficas. “Fizemos 80 porque isso corresponde a um Gray (Gy) [que é a quantidade de energia absorvida por unidade de massa]. Para esse tipo de estudo isso é um valor relativamente baixo. E não existe na literatura especializada informação do que encontraríamos. Nós achamos que não iríamos ver nada, mas irradiamos”, pontua Nieto.
Para ter certeza do resultado, os pesquisadores repetiram a experiência. Assim, oito amostras de Timos foram submetidas, cada uma, a 80 disparos de Raios-X. Em todas as amostras foram confirmadas as quebras de DNA. “Repetimos esse processo e confirmamos, efetivamente, que um Gy já causava um dano terrível ao DNA”, comenta Nieto.
Possíveis danos à saúde – De acordo com o pesquisador, essa não é a primeira vez que a técnica de AFM é utilizada para ver o DNA. No entanto, essa é a primeira vez que são obtidas imagens de DNA in vitro danificados por Raios-X em doses baixas utilizando o Microscópio de Força Atômica. Até então, essa informação era obtida por métodos indiretos e pouco precisos, como a Eletroforeses.
Essas imagens obtidas comprovaram a quebra da dupla fita do DNA. Segundo Nieto, existem vários tipos de danos e o encontrado, nesse estudo, foi definitivo, aquele caracterizado pela quebra dupla das fitas do DNA. “Esse não se conserta, porque, quando quebra uma fita só ou quebra uma parte, o DNA tem poder de se consertar. Mas quando é quebrada a fita dupla completamente do DNA ou ela se quebra em pedaços, não tem como se consertar. Caso se conserte, sempre dá lugar a uma mutação. Essa mutação pode levar a um câncer”, explica o pesquisador.
O grupo de pesquisa pretende dar continuidade ao estudo com objetivo de determinar a quantidade de disparos de Raios-X que são possíveis antes que causem danos irreversíveis ao DNA, a exemplo da quebra dupla encontrada. A equipe de pesquisadores que cooperaram para o desenvolvimento desse estudo é formada pelos professores Fermin de la Caridad Garcia Velasco, Agnes Maria da Fonseca Fausto, Anderson William Mol, Luiz Carlos Salay, Carlos Priminho Pirovani, da Uesc. Além disso, integram o estudo os mestrandos Krizia Rozy Capizzi e David Diniz Gimenes, e os alunos de Iniciação Científica, Matheus Queiroz e Lucas Scher, todos da Uesc.