De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. Ainda conforme o Instituto, que, em maio de 2022, publicou pela primeira vez os dados coletados em 2019 entre a população brasileira, essas informações ainda podem estar subnotificadas. Já o número de mortes aponta um crescimento de 33%, apontado por um dossiê realizado pelo Observatório de Mortes e Violências LGBTI+ no Brasil.
Dar visibilidade às discussões sobre as questões de sexualidade e gênero tem sido desafiador para as comunidades LGBTQIA+. Nesse sentido, as interfaces digitais vêm contribuindo, substancialmente, para a militância dessas causas. É o que aponta a pesquisa “As cores e as dores da comunidade LGBTQIA+: uma análise dialógica da hipertextualização da militância sexual e de gênero em posts de Facebook”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Linguística da Uesb.
Uma das motivações para investigar como os posts ocupam o lugar de militância nessa esfera digital é o preconceito estruturado no Brasil, a partir de crenças culturais e religiosas, conforme defende o pesquisador Filipe Santos Guerra, autor da pesquisa. No trabalho, observou-se que “o post de Facebook é capaz de viabilizar diálogos entre agentes sociais que almejam a construção um mundo mais justo, equânime e esperançoso, no qual a LGBTQIA+fobia é combatida e não impulsionada por regimes arregimentadores”, pontua Guerra.
Diante disso, a investigação, orientada pela professora Márcia Helena de Melo Pereira, evidenciou que o post é multifacetado nas suas formas de resistência e ativismo, possibilitando ao sujeito uma divulgação do tema. Segundo o pesquisador, as discussões também podem “colaborar para a popularização do tema e de seus desdobramentos, auxiliando no rompimento desse tabu social e na construção de uma sociedade menos arregimentada, hostil e intolerante”, defende.
Principais estratégias – Por meio das publicações no Facebook, as estratégias de discussão do tema encontradas no trabalho também interferem na publicização da temática LGBTQIA+. Segundo o pesquisador, elas são divididas em dois grupos: o primeiro busca chamar atenção do leitor por meio de recursos visuais, apresentação de textos divididos em blocos, uso de imagens, entre outros. Já o segundo grupo busca facilitar a compreensão do discurso com o uso da língua escrita, uso de citações, escrita com legenda mais extensa, em um diálogo mais complexo com a imagem, entre outros.
Guerra ressalta, ainda, a importância de entender que, ao passo que existe um avanço nas comunicações por meio do uso da internet, também é necessário atentar-se às falsas informações sobre temáticas variadas. “Lutamos contra um maremoto de desinformação presente nas mais diversas frentes”, afirma o pesquisador, que complementa: “muito já foi dito, mas, definitivamente, ainda há muito a ser feito”, conclui.