Cipó d’alho: assim é conhecida popularmente a Mansoa hirsuta, uma espécie vegetal registrada somente em áreas de Caatinga, bioma do semiárido brasileiro com grande biodiversidade. De grande importância cultural para as comunidades do Sudoeste baiano, a planta é usada, na medicina tradicional, como anti-inflamatória e anti-diabética, mas, cientificamente, seus efeitos ainda não são muito claros, principalmente em relação à segurança alimentar.
Com o intuito de preencher essas lacunas, foi realizada uma pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Genética, Biodiversidade e Conservação da Uesb, em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e a Universidade Federal de Alagoas (Ufal). No estudo, foi avaliada a composição química da planta, suas propriedades antioxidantes, hipoglicemiantes e citoprotetoras, ou seja, os agentes que protegem tecidos sadios dos efeitos tóxicos da quimioterapia e radioterapia e, também, foram verificados os eventuais efeitos tóxicos de compostos do Cipó d’alho.
Na Uesb, a pesquisa foi desenvolvida por Joquebede Rodrigues, durante seu mestrado. Segundo ela, os resultados revelaram o que já era esperado: “em conjunto, a Mansoa hirsuta pode ser uma nova estratégia para tratamento de doenças com base inflamatória e oxidativa, incluindo a diabetes”. Agora, a pesquisadora segue as investigações com a planta focada no desenvolvimento de “um curativo com ação cicatrizante”, objetivo que integra os estudos de seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Outros benefícios – Além da diabetes, o estresse oxidativo é outra doença que pode ser tratada com os extratos do Cipó d’alho, segundo o orientador da pesquisa, professor Paulo Mello Affonso, do Departamento de Ciências Biológicas (DCB) da Uesb. O estresse oxidativo é causado pela exposição do corpo às agressões dos radicais livres, que são moléculas instáveis que danificam e enfraquecem a pele, causando o envelhecimento precoce, por exemplo. Entre os fatores externos que podem contribuir para o aumento da formação dessas moléculas estão a radiação ultravioleta (UV), a poluição e a má alimentação.
Mello destacou a importância da pesquisa tanto do ponto de vista da valorização e conservação de espécies da Caatinga, quanto da acessibilidade da planta. “Fica demonstrada a importância da biodiversidade da Caatinga como fonte potencial de novos fármacos a baixo custo e de fácil acesso às populações locais, normalmente associadas a grupos de baixa renda e alta vulnerabilidade social, além da necessidade de conservação das espécies nativas com possíveis aplicações para biotecnologia e saúde”, concluiu o orientador da pesquisa.