Betina e Makeba são crianças negras que têm suas histórias contadas em dois livros infantis. Elas chegaram à Uesb por meio dos estudos da pós-graduanda em Educação e Diversidade Étnico-Cultural, Denise dos Santos. O trabalho buscou analisar, por meio de obras ilustradas, a contribuição da literatura no processo de construção da identidade étnico-racial na educação e discutir as representações de crianças negras em história infantis. Com a orientação da professora do Departamento de Ciências Humanas, Educação e Linguagens, Soraya Adorno, e com a participação da professora Izanete Marques Souza, do Instituto Federal Baiano, campus de Itapetinga, a pesquisa resultou no artigo “A contribuição da literatura infantil no processo de construção da identidade étnico-racial na Educação Infantil”, publicado na última edição da Revista Odeere.
Além de trazer importantes reflexões sobre as representações de crianças afrodescendentes nos livros infantis, a pesquisa sugere aos professores da Educação Básica e especialistas em Pedagogia, formas de trabalhar a literatura com temáticas voltadas às relações étnico-raciais na Educação infantil. “A pesquisa mostra que, em sua maioria os negros e negras foram simbolizados de forma estereotipada nos livros infantis”, explica Denise dos Santos. Para a pedagoga, as representações em livros podem ser vinculadas ao discurso das diferenças e da valorização das relações étnico-raciais como ferramenta para o desenvolvimento e formação social da criança. “Representando, assim, um instrumento de desconstrução de estereótipos, combatendo o preconceito e a discriminação racial”, reforça.
Literatura infantil e representatividade – No artigo, a literatura é apresentada como um recurso fundamental e significativo para a formação do sujeito, pois proporciona indagações aos leitores, estimula a curiosidade, aguça a produção de novos conhecimentos e é importante para o desenvolvimento de um leitor crítico, fluente e pensante.
De acordo com a professora Soraya Adorno, orientadora do estudo, é por meio da literatura que a criança tem acesso a novos mundos e conceitos, além de discutir problemas e situações reais de forma lúdica. “A escola deve se utilizar da literatura para trabalhar valores sociais e humanos importantes para a construção da personalidade e da identidade das crianças”, comenta. “A literatura infantil pode ser trabalhada como pertencimento, identidade étnico-cultural, ancestralidade, para que crianças negras se sintam representadas de maneira valorativa e que as crianças brancas conheçam e respeitem a história e acultura do povo negro”, argumenta a professora. Na sua avaliação, os livros “Betina” e Makeba vai à escola”, objetos de análise da pesquisa, quando trabalhados na escola trazem essa representação positiva. Ela cita, ainda, outros livros que devem fazer parte do acervo escolar, como “Meu cabelo crespo é de Rainha”, “Menina bonita do laço de fita” e “Meu cabelo de Lelé”.
Construção de identidade – “Os livros “Betina” e “Makeba vai à escola” colocam o negro enquanto ser que tem história, que tem uma identidade própria. Ao valorizar aspectos do seu fenótipo como o cabelo, as personagens fazem com que o leitor se identifique como negro e também como cidadão”, reflete a professora Soraya. Segundo ela, os livros trazem o aspecto da valorização e mostram o negro enquanto um sujeito de ação e não subalterno ou inferiorizado. “Mostra como somos – lindos e fortes!”, complementa.
Para o desenvolvimento da pesquisa, Denise dos Santos se fundamenta no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil e nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, documentos que tratam das propostas pedagógicas e consideram a criança como o centro do planejamento curricular. Como marco das políticas governamentais de inclusão social, o artigo destaca a Lei do Ensino de Cultura Negra (Lei 10.639/2003 alterada pela Lei 11.645/2008), que inclui no currículo oficial das escolas das redes de ensino público e privado, a obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena.
Agora especialista em Educação e Diversidade Étnico-Cultural, Denise dos Santos comemora a possibilidade de abordar a temática na pós-graduação, que envolve inclusão, racismo e diferenças, conhecimentos, construção de identidade e relações na escola. “A inclusão de conhecimentos sobre a educação das relações étnico-raciais e sobre a história e cultura afro-brasileira e africana, nos cursos acadêmicos, representa um avanço político e pedagógico na história da educação e da escola brasileira, preparando o discente para sua trajetória acadêmica”, conclui a pesquisadora.