A todo momento, estamos rodeados por minúsculos seres vivos invisíveis a olho nu, mas que são fundamentais para a nossa vida. Quando falamos em micróbios, geralmente, a primeira coisa que pensamos é que eles são prejudiciais à nossa saúde. O que a maioria das pessoas não sabe é que alguns deles nos beneficia e estão presentes na fabricação de alimentos, bebidas, medicamentos, vacinas e em tantos outros produtos que consumimos.
Essa falta de conhecimento pode ser atribuída, dentre outros motivos, às dificuldades relacionadas ao ensino da Microbiologia na Educação Básica (que corresponde a Educação Infantil e Ensinos Fundamental e Médio). Nesse sentido, a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEn) da Uesb, Danielle Rocha, está desenvolvendo a pesquisa “O ensino de microbiologia aplicada à saúde associado às estratégias didáticas na Educação Básica”.
A Microbiologia é a ciência que estuda os microorganismos, ou seja, os seres vivos que só são visíveis com a ajuda de equipamentos, como o microscópio. O conhecimento, ainda que básico, sobre o tema é relevante para a sociedade por diversos motivos, sobretudo pelo fato de estar diretamente relacionado à saúde humana. Rocha afirma que “o ensino de Microbiologia na Educação básica é capaz de gerar impactos tanto no processo educacional quanto na saúde, uma vez que contribui para o desenvolvimento de competências que melhoram a saúde individual e a coletiva também”.
Segundo ela, ao atuar com a educação em saúde, ficou nítido que os profissionais da educação também podem contribuir, efetivamente, para a promoção da saúde, atuando na conscientização e prevenção de doenças. Entretanto, também foram identificadas algumas dificuldades na efetivação desse ensino durante a Educação Básica, como a falta de recursos e a dificuldade em associar o tema com o cotidiano.
Principais dificuldades identificadas – Dividida em fases, a pesquisa contou com a orientação da professora Gabriele Marisco, do Departamento de Ciências Naturais (DCN) da Universidade. A primeira etapa foi aplicar um questionário com 66 professores, com o objetivo de identificar algumas questões que permeiam o ensino da Microbiologia, como os conteúdos que são abordados, as metodologias utilizadas, os desafios enfrentados pelos professores e como estão abordando microbiologia no período pandêmico.
Após análise dos dados fornecidos nos questionários, foram identificadas as principais dificuldades nesse processo. A forma de abordar os conteúdos foi apontada como um dos maiores problemas. Com a falta de equipamentos, de materiais e de infraestrutura para realização de aulas práticas experimentais, por exemplo, muitos professores limitam suas aulas ao tradicional livro didático como recurso. Essa dificuldade na abordagem dos conteúdos reflete em um outro problema no ensino da Microbiologia: a dificuldade em estabelecer associações do que é estudado com o cotidiano. Por se tratar de uma ciência abstrata, muitas pessoas têm dificuldade em visualizar e entender que os microorganismos fazem parte da vida cotidiana. Outros problemas levantados pela pesquisa foram o vocabulário complexo, a ausência de tempo e a falta de apoio pedagógico.
Novos caminhos – A segunda fase do projeto foi a realização do “Ateliê didático Reinventa Docente: ensino de microbiologia”. Com caráter de pesquisa-formação, 20 professores que participaram da primeira fase do estudo foram selecionados para uma capacitação, que buscou auxiliar no desenvolvimento de estratégias pedagógicas, como a realização de aulas práticas e experimentais. Com encontros síncronos e assíncronos, todas as atividades do Ateliê ocorreram de forma virtual, via Google Meet.
Reunindo o que foi discutido durante a capacitação, a pesquisa ainda produzirá um produto educacional com estratégias didáticas. O material será distribuído a professores da Educação Básica, com o intuito de auxiliá-los na prática do que foi abordado. Para a pesquisadora, é preciso que o docente entenda que a sala de aula não é um ambiente homogêneo e que a melhor alternativa para superar os desafios em torno do ensino da Microbiologia é a adoção de diferentes estratégias e recursos didáticos na sala de aula, indo além do tradicional e, consequentemente, facilitando o processo de aprendizagem por parte dos alunos. “A Microbiologia deve ser abordada de forma crítica, evidenciando a importância dos microrganismos para a saúde humana, apresentando as diversas aplicações/benefícios e explorando temas relacionados à saúde pública, prevenção de doenças e higiene corporal”, defende.
A pandemia despertando o interesse – Em sua pesquisa, Rocha também identificou uma maior disposição dos professores em abordar conteúdos relacionados à Microbiologia devido ao aumento da demanda por informação sobre o tema, causado, sobretudo, pela pandemia de Covid-19. Estar vivenciando um contexto onde várias pessoas adoeceram e morreram por conta de um microorganismo despertou a curiosidade dos alunos. A pesquisadora chama atenção para a importância da ciência nesse momento de muita desinformação: “há uma pandemia da desinformação que surgiu com o atual cenário político e que foi agravada com a crise sanitária, gerando ataques à ciência e movimentos contra ações para conter a pandemia”.
Ela destaca ainda a importância do ensino no combate a esse problema. “É importante reforçar que a escola é a base de apoio para divulgar informações científicas e enfrentar a desinformação, sendo necessário que os professores compartilhem informações científicas sobre os microrganismos e orientem os estudantes a buscar informações de modo criterioso”, finaliza.
Essas e outras notícias estão disponíveis no site do “Ciência na Uesb“.