Maiane, Joaquim e Roberto são catadores de material reciclável em Vitória da Conquista. Na noite da última terça, 19, eles tiveram uma programação diferente: foram se ver na telona. Os trabalhadores são personagens do documentário “O lixo não some”, de Liziane Silva e Yasmin Rocha, um dos filmes exibidos durante o 2º Poca Zói – Festival de Cinema do Sudoeste Baiano, que acontece até a próxima quinta, 21.
“São guerreiros, que estão fazendo um trabalho que a gente não olha com tanta atenção, e que é de extrema importância. O documentário é sobre o que eles pensam sobre o próprio trabalho, se têm consciência de que é tão importante”, descreveu Yasmin Rocha, egressa do curso de Cinema e Audiovisual da Uesb. “O Festival proporciona esse lugar que a gente consegue trazer as pessoas e colocá-las em frente a uma tela, para fazê-las olhar o que está acontecendo”, continuou.
O filme de Yasmin foi uma das produções convidadas pelo Festival. Além dos filmes convidados, de egressos e professores do curso da Uesb, o evento contou com cerca de 70 produções inscritas nas mostras competitivas: “Produção Universitária Nordeste” e “Produção Universitária Sudoeste Baiano”. Desse total, com uma média de dez curta-metragens por dia, o Festival promove sessões abertas e gratuitas no Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima.
Entre as produções audiovisuais do Nordeste que se encontram no interior da Bahia está “Até 10”, de Gabriel Côelho, estudante de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco. O filme é um drama psicológico que conta a história de Bernardo, dono de uma indústria de móveis, que, com 62 anos, mora sozinho e tem que contar até dez todas as noites para conseguir dormir.
Para o produtor, a oportunidade tão longe da terra natal é uma importante janela para o mundo. “Fomentar a produção e distribuição de filmes universitários é importantíssimo para incentivar novos talentos no mercado e abrir portas para futuras parcerias e projetos”, defendeu.
Formação – Mobilização, exibição, reflexão e pensamento em torno da produção do Cinema. A definição do Festival, que chega a sua segunda edição neste ano, é do professor Filipe Gama, coordenador do Programa de Cinema e Audiovisual da Uesb (Procine), realizador da ação. Ele destaca os momentos de bate-papo que acontecem após as sessões e permitem a interação entre quem faz e quem assiste aos filmes.
“Essa produção está falando sobre a nossa cultura, a nossa realidade, o nosso tempo. Em uma sociedade cada vez mais audiovisual, o Cinema tem a capacidade de construir narrativas, trazer olhares”, comentou. “É um campo vastíssimo e com muito potencial, então quando a gente faz isso, permitindo a capacidade de reflexão, é ainda mais pertinente, com o diálogo não só de quem produz com quem produz, mas de quem produz com a própria sociedade que está sendo representada”, acrescentou o professor.
Filipe lembrou ainda de toda o vínculo que a cidade de Vitória da Conquista tem com o universo do Cinema, a sua potência e possibilidade de se mobilizar em torno do audiovisual. Nesse cenário, “a Uesb tem um papel preponderante, pois tem um curso de Cinema e Audiovisual no interior do Nordeste e isso é uma exceção à regra. Isso acontece exatamente porque existe um histórico de reflexão dentro da Universidade”, concluiu.