Os guardiões são produtores que auxiliam na preservação da genética das aves desenvolvidas no Labeave
Há mais de 20 anos, é desenvolvido no Laboratório Experimental de Avicultura (Labeave) do campus da Uesb, em Itapetinga, pesquisas genéticas com aves regionalizadas. O trabalho envolve quatro raças de galinhas: Meia Perna; Caneludo do Catolé; Peloco e o Frango da Carne Negra, além do Peru Preto Caipira e do Pato Catolé.
Coordenado pelo professor Ronaldo Vasconcelos, o objetivo do projeto é divulgar e disseminar a genética desenvolvida na Universidade, capacitando os criadores para o manejo adequado das aves e a apresentação do produto ao consumidor. Até agora, mais de 2 mil aves foram entregues para servir de base reprodutiva em quintais de diversas cidades da Bahia.
Para reforçar a segurança alimentar e gerar renda para agricultores familiares, o Labeave criou a iniciativa “Guardiões”, que reúne pessoas interessadas em preservar e trabalhar com a genética das aves. Atualmente, mais de 30 guardiões, distribuídos de Juazeiro a Teixeira de Freitas, mantêm e multiplicam as raças desenvolvidas. “Hoje estamos com mais de 30 guardiões no estado da Bahia”, enfatiza Ronaldo.
O laboratório também firmou parceria com o Centro de Convivência e Desenvolvimento Agroecológico do Sudoeste da Bahia (Cedasb), organização não governamental localizada em Vitória da Conquista, que presta assistência a pequenos produtores em mais de 20 municípios do sudoeste baiano.
Mais de 2 mil aves já foram distribuídas em vários munícios baianos que servem como base para a disseminação da genética
De acordo com Ronaldo, as raças criadas na Uesb são bastante interessantes para a agricultura familiar, especialmente porque combinam rusticidade, boa produção de carne e ovos e adaptabilidade às condições locais. “Tanto para o corte quanto para a postura, eles são muito compatíveis com raças famosas. E ainda há o resgate da nossa genética nacional, de aves que estão nos quintais há séculos e que muitas vezes passavam despercebidas. Eu trabalho muito a valorização desse patrimônio genético, e a receptividade tem sido muito boa”, destaca.
Em Itagibá, no interior da Bahia, o trabalho do Labeave inspirou a Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Econômico do município a criar um espaço de reprodução das aves da Uesb. Por meio da Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater), foi identificado que muitos agricultores possuíam áreas pequenas e improdutivas, sem geração de renda. “Pensamos na avicultura para solucionar este déficit da nossa agricultura familiar”, explica Dulciane Barreto, secretária de Agricultura.
Com o apoio do Labeave, Itagibá recebeu um núcleo inicial de aproximadamente 50 aves da raça Caneludo do Catolé. Hoje, o município conta com cerca de 250 animais e expandirá sua estrutura para atender 50 famílias rurais, por meio do projeto “Trabalho Decente: Criação de Galinhas”. “Além disso, começamos a comercializar ovos, agregando produtores que antes trabalhavam isoladamente. Já planejamos a construção de um entreposto de ovos”, acrescenta Dulciane.
As aves desenvolvidas na Uesb contribuem para a segurança alimentar e geração de renda para famílias baianas
O Cedasb também tem atuado na disseminação das aves crioulas desenvolvidas pela Uesb. Para Rogério Macedo, técnico agropecuário e sócio-fundador da organização, a iniciativa amplia as possibilidades de fortalecimento da agricultura familiar. “Quando procurei o professor Ronaldo para conhecer o trabalho com aves crioulas no Labeave, o objetivo era somar forças e disseminar esse material genético mais resistente e adaptado às condições locais e ao manejo rústico das comunidades e municípios onde atuamos”, relata.
As aves foram distribuídas em 28 municípios, beneficiando diretamente cerca de 300 famílias agricultoras. Embora ainda não haja números exatos, o impacto indireto tende a ser maior, com a expansão da comercialização de ovos e aves em programas como o Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS) e o Fundo Rotativo Solidário.
Entre os produtores beneficiados está Antônio Nascimento de Jesus, aposentado e criador de aves há mais de 20 anos. Há cerca de três anos, ele teve acesso às aves da Uesb e, desde então, trabalha com elas para consumo próprio e venda de reprodutores. Para seu Antônio, participar do projeto Quintais Produtivos é importante para a economia doméstica. “Posso oferecer à minha família uma alimentação com produto natural, de qualidade e boa procedência”, afirma. Ele destaca ainda a importância da iniciativa para a preservação e disseminação das raças nativas.