Ao longo dos anos, fomos condicionados a receber indicações de livros escritos e pensados, em sua grande maioria, por pessoas brancas. Mas essa realidade tem se transformado e a visibilidade para leituras mais representativas e diversas tem ganhado destaque. É com essa proposta que o “Clube de Leitura Preta no Quilombo”, desenvolvido no Colégio Estadual Dr. Milton Santos, em Jequié, possibilita encontros semanais para debater temáticas raciais através de obras escritas por autores negros.
Jéssika de Oliveira, estudante do curso de Letras e membro do Programa de Residência Pedagógica, ambos da Uesb, é coordenadora desse projeto na escola quilombola. Para a pesquisadora, a iniciativa é uma forma de apostar no poder que a literatura tem de desconstruir conceitos e construir algo positivo em seu lugar.
“Raça, gênero e classe são divisores de água para enfrentarmos os nossos problemas estruturais que permeiam ainda a sociedade. No entanto, sempre observei a lacuna existente na exploração desse conteúdo na escola, por exemplo. Então, há alguns anos, venho me aprofundando nessa temática e tendo retornos positivos ao trabalhar com ela”, conta Jéssika.
Com uma proposta de combate ao racismo através da leitura, discussão e produção de textos, a iniciativa inspira os estudantes a reconhecerem suas trajetórias de vida e a conquistarem novos espaços na sociedade. A escola, que não possui uma biblioteca, recebe, desde julho do ano passado, os alunos e os professores participantes do projeto em uma sala reservada para a atividade.
Reflexo na comunidade – No decorrer desse período, Jéssika destaca que os estudantes não sabiam muito a importância do letramento racial até o primeiro contato. Além disso, foi percebida uma mudança na forma como eles passaram a enxergar alguns acontecimentos que são corriqueiros em suas vidas.
Mesmo com a existência da Lei 10.639/2003, que institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira no Ensino Fundamental e Médio, ainda há uma necessidade de uma reeducação racial, com o objetivo de desconstruir ações normalizadas em relação às pessoas negras. O “Clube da Leitura Preta no Quilombo” é a forma que os participantes têm de reconhecer e colocar em prática o seu lugar de fala, refletindo na comunidade tais ações. “Com os alunos tendo acesso ao letramento racial, consequentemente, seus pais ou cuidadores também terão, de forma indireta, esse contato”, ressalta Jéssika.
Atualmente, a equipe do projeto é composta pelos professores Leonardo Barbosa, Cícero Bass, Thiago Paim, Felipe Queiroz e Hebe Silva e conta com o apoio de Jeferson Andrade, diretor do colégio em que o Clube funciona. Os estudantes que estejam cursando a partir do 7º ano do Ensino Fundamental e tenham interesse em participar do Clube de Leitura pode entrar em contato pelo perfil do Instagram.