Zuela: nome banto que designa as cantigas utilizadas nos rituais do terreiro. Padê: nome iorubá que designa rituais de aberturas dedicados a orixás, inquices e vodus das encruzilhadas, das estradas, das ruas, da comunicação, da sexualidade, da vida e da morte.
Partindo das zuelas cantadas no padê, Eudes Siqueira, pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Relações Étnicas e Contemporaneidade da Uesb, decidiu investigar as identidades étnicas, os simbolismos e as ancestralidades da Festa N’Aruanda, realizada no terreiro Ilê Axé Orussalê. O espaço, de origem queto-angola, está localizado em Gongogi, município do sul da Bahia.
Compreendendo o padê e as zuelas como formas simbólicas, legadas pelos povos africanos e recompostas pelos sujeitos de terreiros na diáspora brasileira, Siqueira então busca entender, cientificamente, como as identidades étnicas são construídas pelos sujeitos do terreiro Ilê Axé Orussalê. Segundo o pesquisador, a investigação se torna ainda mais importante diante dos debates contemporâneos sobre etnicidade, identidade, ancestralidade, memória e cultura, numa sociedade pluriétnica como o Brasil, historicamente marcada por imposições etnocêntricas.
O trabalho trouxe contribuições para a tematização do conhecimento afro-brasileiro e dos legados africanos na cidade de Gongogi, possibilitando, por exemplo, novas indagações sobre as origens do nome Gongogi. Outra abordagem presente é em torno da presença dos povos bantos na formação cultural das populações que vivem no entorno do Rio Gongogi. A pesquisa ainda trabalha com questões voltadas para o entendimento da diversidade cultural, social, étnica e religiosa, contribuindo para a efetivação da Educação das Relações Étnicas, respaldada pela Lei 10.639/03.
Juventude nos terreiros – A pesquisa revelou o terreiro como um espaço político pluriétnico, lugar em que os diversos mitos, ritos e ancestrais cultuados são poços inesgotáveis de saberes e práticas que sustentam as ações dos sujeitos. As relações interétnicas se constroem nestas encruzilhadas de modo dinâmico, onde as diferenças e as identidades são tecidas de acordo com uma infinidade de atributos, contextos e situações que dizem respeito, principalmente, às origens evocadas e as fronteiras geradas nas vivências.
Com um olhar para a juventude dentro do trabalho, a investigação apontou para uma importante participação desse grupo na própria transformação do município. “Atualmente, a pesquisa tem refletido sobre a atuação da juventude nas construções de mitos, identidades e subjetividades gongogienses, indagando de que maneira o protagonismo juvenil de estudantes gongogienses se vincula aos movimentos de transformações e reinvenções da cidade”, contou o pesquisador.
A atuação da juventude nesses espaços, proporcionando uma nova troca de conhecimentos e a construção de identidades, também faz parte dos resultados observados. “Os jovens levam conhecimentos de danças, musicalidades, culinárias, etnicidades, mitologias, estéticas, linguagens artísticas, literaturas, arquiteturas, medicinas etc., atuando no intercâmbio do conhecimento afro-brasileiro na medida em que interagem com tantos outros sujeitos”, revelou.
A pesquisa teve a orientação da professora Marise de Santana, docente do Programa e do Órgão de Educação e Relações Étnicas (Odeere) da Universidade.