No final da tarde dessa última quinta-feira, 19, a sala 3 do Centro de Aperfeiçoamento Profissional (CAP), campus de Vitória da Conquista, foi palco dos “Diálogos sobre Pesquisas Transdisciplinares”, evento em formato de simpósio temático promovido pelo Grupo de Pesquisa HQuê? – Uesb, em parceria com o Laboratório Transdisciplinar de Estudos em Complexidade (Labetece). O objetivo da atividade foi divulgar a produção de pesquisas e estudos articulados dentro do grupo e desenvolvidos por seus membros como trabalhos de monografia ao fim da graduação em História.
De acordo com o coordenador do simpósio e membro do HQuê?, Rodrigo Brito, o evento foi também uma forma de reapresentar o grupo à comunidade acadêmica, já que ele esteve parado por um tempo após a perda de um de seus componentes, que, inclusive, foi homenageado durante o encontro. “É de fato um retorno e, durante esse tempo em que estivemos parados, nós conseguimos estabelecer uma rede de colaboradores de diversas áreas por todo o país. Agora é o momento de voltar os olhos aqui para a Uesb e chamar os nossos colegas para participar desse evento, que é só o primeiro de muitos, pois, junto com o Labetece, nós temos uma programação de atividades prevista até o mês de novembro, as quais divulgaremos paulatinamente”, contou.
A cultura pop em geral, com destaque para o gênero História em Quadrinhos, se constitui como o foco das pesquisas e estudos produzidos dentro do HQuê?, e os “Diálogos” foram uma forma de agregar arcabouço teórico e metodológico ao conhecimento de graduandos que se sentem motivados a estudar a temática. “A gente precisa externar os estudos que temos feito dentro do grupo, principalmente daqueles membros que já graduaram com pesquisas interdisciplinares utilizando as vertentes com as quais trabalhamos, e as Histórias em Quadrinhos já trazem em si uma leitura interdisciplinar”, explicou Laluña Machado, graduada em História e coordenadora do HQuê?.
Machado foi quem abriu o evento com a apresentação da sua pesquisa intitulada “Batman The Dark Knight: a representação de um herói em guerra no seriado de 1943”, na qual desconstrói um pouco da visão do personagem como social e politicamente correto construída ao longo dos seus quase 80 anos de história. “Como historiadora, eu sei que todo produto é fruto do seu contexto histórico, e isso não ficaria diferente em relação ao Batman. Então, eu trago do seriado essa representação do personagem com todo um discurso xenofóbico e armamentista no contexto da Segunda Guerra, o que é uma surpresa para quem está acostumado a outras representações do herói”, disse.
A Mulher Maravilha também foi tema de outra pesquisa de conclusão de curso apresentada no evento. Em sua monografia, a agora graduada em História, Gleiciellen Brito Pinto, abordou a construção narrativa da personagem e sua afirmação como ícone feminista durante as décadas de 1940 e 1960. Ela destacou que ainda há uma certa dificuldade de aceitação desse tipo de pesquisa no campo acadêmico. “É difícil trazer esse tipo de pesquisa para a academia por ainda termos algumas ressalvas dos professores em relação ao apoio que precisamos para seguir em frente, pois é difícil encontrar algum que tenha proximidade com a temática. Mas, por outro lado, tem o prazer de trabalhar com algo que você de fato gosta e isso ajuda no processo da pesquisa”, comentou.
Para Flávia Campos, que estudou em sua monografia as representações do diabo na contemporaneidade a partir do personagem Luci na webcomic “Um sábado qualquer”, a escolha de um objeto de pesquisa que a instigava foi essencial para desenvolver bem o seu trabalho. Para ela, além de uma oportunidade de divulgar a sua pesquisa, o simpósio é “um momento de integração entre alunos não só do curso de história, mas também de outras graduações”.