De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 800 mil pessoas se suicidam no mundo anualmente, o equivalente a um suicídio a cada 40 segundos. Segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados no dia 20 de setembro, foram registrados no Brasil mais de 11 mil mortes em 2016. Entre 2007 e 2016, 106.374 pessoas morreram em decorrência do suicídio no país, registrando um aumento de 16,8% da taxa de mortalidade por 100 mil habitantes nesse período. O suicídio é reconhecido como problema de saúde pública, sendo preciso criar políticas que atendam essa demanda, considerando a natureza multideterminada do fenômeno e garantindo aporte transdisciplinar.
Mas toda morte fala algo da sociedade em que ela ocorre. Assim, para compreendermos o suicídio, é preciso levar em conta os fatores socioeconômicos e culturais vivenciados pelos sujeitos contemporâneos, como a competição, a perda dos vínculos afetivos, a exclusão e a vulnerabilidade psicossocial de grupos que são vítimas de discriminação. Profissionais do Conselho Federal de Psicologia (CFP) alertam que os vínculos afetivos e humanizados estão se tornando cada vez mais frágeis e a falta de referências nos deixa a deriva, pois tudo é passageiro e substituível, inclusive nós. As tecnologias, de modo ambíguo, aproximam, mas criam um mundo onde sequer somos vistos; atrás de aparelhos, poucos contatos verdadeiros são estabelecidos.
A atuação de profissionais na prevenção ao suicídio deve extrapolar as intervenções estritamente individuais e buscar a compreensão das condições de vida que podem contribuir para produzir sofrimentos mentais intensos. A medicalização, embora possa constituir-se parte importante deste processo, por si só, não equivale a um tratamento completo para o sujeito. É preciso acolher e ressignificar os sofrimentos a partir do entendimento de como são produzidos nas instâncias sociais, históricas e culturais.
Por outro lado, o atual contexto político aponta para um retrocesso no Plano Nacional de Saúde Mental, antes focado na consolidação de uma Rede de Atenção Psicossocial (Raps), estruturada em unidades de serviços comunitários e abertos, ensejando um retorno à lógica manicomial e medicalizante. As alterações recentemente implementadas têm reorientado as políticas públicas para a alienação e o asilamento, retirando das pessoas que sofrem com os agravos à saúde mental seus direitos fundamentais.
O suicídio ainda é considerado um tema tabu e a pouca discussão inibe atuações mais efetivas, devido às dificuldades de identificação dos sinais, a oferta e busca por ajuda, agravada pelo preconceito e falta de informação. Assim, prevenir depende de falar sobre o assunto. Neste cenário, a administração da Uesb, considerando sua responsabilidade como agente público, se envolve com a campanha de prevenção, debatendo o suicídio.
Tendo como mote o planejamento de ações referentes ao Setembro Amarelo, a atual gestão promoveu, no dia 10 de setembro, um primeiro encontro entre diversos setores administrativos e representantes da comunidade universitária, para identificar as principais demandas da Universidade relacionadas à área de saúde mental. O objetivo é replicar e ampliar este debate, nos três campi, de modo a levantar dados e informações capazes de subsidiar a elaboração de um projeto que contemple a oferta de um serviço básico de acolhimento em rede, voltado para a promoção e prevenção da saúde física, mental e ao bem estar, que atenda a comunidade universitária, mas com função complementar, não substitutiva, ao Sistema Único de Saúde.
A campanha do Setembro Amarelo na Uesb está contando com diversas ações que visam promover e ampliar a discussão do tema para além da perspectiva do universo individual, estabelecendo a dimensão coletiva e comprometendo todos os segmentos da comunidade universitária, em parceria com a sociedade.
Nesse sentido, convidamos todas e todos a participarem, nesta terça, 25, de mais uma atividade elaborada conjuntamente pela Gestão da Uesb, representantes de professores, técnicos e discentes, visando o debate e as reflexões sobre o suicídio e as formas de prevenção.