O docente Wermerson Silva, vinculado ao Departamento de Ciências Humanas, Educação e Linguagem (DCHEL), no campus de Itapetinga, criou o canal no YouTube Axé Libras, primeiro destinado à comunidade surda com verbetes na língua yorubá. Os vídeos são resultado do projeto de extensão “Construindo saber: édè lamí”, iniciado pelo professor junto a professores da rede pública municipal, comunidade surda, tradutores e intérpretes em Libras. O projeto nasceu de uma necessidade em discutir a cultura afro-brasileira e africana, principalmente enquanto componente curricular da Educação Básica, na perspectiva da Língua de Sinais Brasileira (LSB).
A Lei 10.639 de 2003 instituiu novas diretrizes curriculares, tornando obrigatório o estudo da história e da cultura afro-brasileira e africana. No entanto, o docente percebeu que havia uma lacuna para a comunidade surda, já que durante as aulas da disciplina não existiam sinais-termos que representassem os vocábulos em yorubá. Por isso, surgiu a ideia de fazer um projeto de extensão envolvendo professores da rede pública municipal, comunidade surda, tradutores e intérpretes de LSB. “Os encontros acontecem quinzenalmente, na Escola Jandiroba, em Itapetinga. O local foi escolhido para aproximar o grupo com a realidade escolar”, afirma Silva.
Por meio da análise dos parâmetros linguísticos, como configuração de mãos, movimentos, orientação da mão e expressões não-manuais, a equipe criou um glossário alfabético bilíngue de Yorubá-Libras durante as reuniões. A partir desses verbetes, o docente criou o canal no YouTube para, além do registro visual, permitir que a comunidade surda de outros lugares aprenda os sinais-termos e possam se comunicar em yorubá, idioma falado na Nigéria, no sul da República de Benin, nas Repúblicas do Togo e nos terreiros de candomblé da nação Ketu/Nagô do Brasil.
Para o professor, levantar essa discussão na Educação Básica do município e, ao mesmo tempo, propor a nomeação de sinais-termo em LSB, configura-se numa ação de inclusão linguística e cultural de surdos(as). As ações e práticas deste processo trazem contribuições linguísticas e sociais que vão além do escopo do projeto e que não se esgotam por ele mesmo. Segundo o docente, os dados obtidos poderão ser utilizados na ampliação de propostas de léxico alfabético bilíngue para a LSB, além de servir como uma fonte importante na elaboração de recursos audiovisuais que propiciem acervos midiáticos.