Além de possuir a capacidade de emocionar e fazer refletir, a Literatura pode romper barreiras e agir como uma ferramenta de transformação social. Exportador de grandes escritores a nível mundial, o Brasil possui uma população que ultrapassa os 50% de cidadãos
negros, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas quantas vezes você já ouviu falar de autores como Silvio Almeida, Itamar Vieira Junior e Conceição Evaristo? As obras desses e de outros autores negros fazem parte de dois projetos que surgiram na Uesb voltados para valorização cultural e étnica com foco no ambiente escolar.
Um deles é o “Contando Africanidades”, criado no campus de Itapetinga. Trazendo personagens negros e indígenas como protagonistas, a iniciativa utiliza a contação de histórias para a valorização cultural e étnica brasileira. Segundo a professora Letícia Azevedo, coordenadora do projeto, o objetivo é o “diálogo no combate ao preconceito racial no ambiente escolar”.
A ideia do projeto surge quando Letícia se descobre mulher negra, já em fase adulta, sobretudo, no período da Universidade. A partir daí, a professora enxergou a possibilidade de valorizar a identidade afrodescendente entre os alunos. “Milito pela visibilidade dos corpos negros, das infâncias negras, no enfrentamento ao preconceito e discriminação racial”, afirma.
O “Contando Africanidades” busca fugir do óbvio da literatura escolar. Segundo Letícia, na maioria das instituições de ensino, são valorizadas as obras europeias, deixando de lado as reais histórias do “nosso povo preto-indígena e a pluralidade cultural do país”. Até 2024, o projeto espera atender mais de três mil estudantes, indo além do município. A ideia é “democratizar o acesso às crianças da periferia, das escolas do campo, comunidades quilombolas, atendendo estudantes de Itapetinga e região”, conclui.
Trabalho semelhante vem sendo construído no Colégio Estadual Doutor Milton Santos, em Jequié, pela estudante do curso de Letras, Jessika de Oliveira. O “Clube de Literatura Preta no Quilombo” procura familiarizar os estudantes com as obras de autores que valorizam os temas afros. “Vivemos em um país racista, que ainda carrega muitos resquícios do período colonial. Diante desse cenário, acredito no letramento racial como uma ferramenta de desmonte do racismo”, defende Jessika, que estagiou como professora na escola jequieense.
O objetivo do Clube vai além da popularização dos escritores para os estudantes e carrega a capacidade de dar novos significados às relações que esses alunos possuem com a sociedade. “Passaram a despertar o olhar para os acontecimentos ao seu redor, de dar nomes às situações que, muitas vezes, acontecem corriqueiramente, como o racismo”, aponta a estudante.
Contação de histórias, oficinas, clubes de leitura e outras ações auxiliam no processo de valorização da cultura afro-brasileira e de reconhecimento racial. São trabalhos que se tornam ainda mais fortes quando realizados em parceria pelas instituições de educação e sociedade.
Essa e outras reportagens estão disponíveis na 4ª Revista Uesb; baixe aqui